Além das famosas Ilhas Cagarras, vistas das praias da Zona Sul do Rio, mais 70 ilhas fazem parte da paisagem do litoral carioca. Pesquisadores do Projeto Ilhas do Rio estão estudando, pela primeira vez, duas delas, na região da praia de Grumari, Zona Oeste do Rio: a das Almas e a das Peças.
A reportagem acompanhou de perto o terceiro dia de expedição da pesquisa e, no mergulho, pode ver algumas das centenas de espécies marinhas – como golfinhos, tartarugas marinhas, polvos, estrelas-do-mar, corais, ouriços e moreias –, mas também muito lixo lançado pelos homens.
Desde 2011, o arquipélago das Cagarras, considerado um monumento natural, é objeto de pesquisa do projeto com o levantamento de dados da biodiversidade existente no local.
Agora, o estudo, realizado em parceria com o Núcleo de Vida Marinha, inserido na Secretaria de Ambiente e Clima, expande e quer descobrir qual é o impacto causado pelas ilhas ao ecossistema marinho do Parque Natural Municipal de Grumari.
Áthila Bertoncini, oceanógrafo e pesquisador do projeto Ilhas do Rio, apresenta o objetivo da pesquisa.
“Começamos com essa ideia de expandir os trabalhos do projeto para as ilhas do oeste do Rio de Janeiro já que, virtualmente, não se conhece nada o que tem debaixo d’água. Estamos fazendo esse levantamento de dados para fortalecer a gestão da secretaria,” explica.
No projeto, há biólogos marinhos e oceanógrafos, com experiência em mergulho. O translado até as ilhas levam cerca de 20 minutos de barco.
O principal registro embaixo d’água é feito com câmeras que giram automaticamente e gravam, do fundo do mar, os animais que fogem da presença de mergulhadores.
“Você pode ver com seus próprios olhos os cavalos-marinhos, que é uma espécie ameaçada hoje de extinção no Brasil. A gente vê que tem uma riqueza aqui, abrigada por essas águas, não só cavalos-marinhos, mas também peixes de interesse comercial, como badejo e garoupa,” relata Áthila.
Pela observação dos primeiros dias de trabalho, é possível perceber que as ilhas da Zona Oeste do Rio funcionam como berçário de peixes importantes para a economia pesqueira.
“Do ponto de vista econômico e de subsistência pra diversas famílias de pescadores, essas áreas possuem várias espécies que nascem aqui e que podem servir de alimento ou para venda, gerando renda,” diz Augusto.
As pedras da Ilha das Palmas escondem uma piscina natural cheia de vida marinha que se forma com o vai e vem das marés.
“Como uma forma complementar às amostragens feitas pelas câmeras remotas que filmam o fundo do mar, nós mergulhamos e identificamos as espécies que ocorrem aqui nas ilhas. Elas são catalogadas em uma lista de animais que habitam essas áreas,” explica o biólogo marinho e pesquisador do projeto, Augusto Alves Machado.
Poluição no mar
Ao mesmo tempo que se registrou muita beleza, também se encontrou muito lixo. A presença humana e o impacto na ilha preocupam os pesquisadores, justamente por não ser um lugar isolado.
Turistas e pescadores vão até as ilhas e chegam a passar a noite depois de um passeio de barco. Nos mergulhos, foi possível observar muito plástico e até um monitor de computador jogado no fundo do mar.
Depois de conhecer e registrar essas belezas, o projeto Ilhas do Rio pretende apresentar para as autoridades os relatórios sobre o que foi encontrado aqui.
“Tudo faz parte de um grande programa que a gente pode criar e fomentar cursos e capacitação para as pessoas que trazem turistas pra cá, de levar o lixo embora e cuidar um pouquinho mais do seu lixo que traz pra cá. Preservar e manter. É lindo por si só. A gente só tem que cuidar”, diz o oceanógrafo.
Fonte: G1