Dias após o aparecimento de espuma e coloração esverdeada em algumas regiões do litoral do Rio, a Praia de Copacabana tem tido alto índice de presença de águas-vivas. O animal, que, a depender da espécie, pode queimar e causar ferimentos, costuma se reproduzir neste período do ano, o que torna seu surgimento comum.
De acordo com o oceanógrafo David Zee, as espécies de águas-vivas surgem no final da primavera e início do verão, quando há uma onda de água quente e, consequentemente, empurramento delas em direção às praias.
— As águas-vivas aparecem quando as águas superficiais do mar são empurradas em direção à costa, e não há muita mobilidade de água para que haja arrastamento disso para longe. Então a água mais quente vai levando esses organismos e eles vão se proliferando — explica Zee.
Banhistas e nadadores que costumam frequentar a praia se depararam com uma quantidade maior de águas-vivas. De acordo com a empresária Lucia Pereira, que faz natação no Posto Seis, o evento é raro e faz com que as pessoas precisem tomar mais cuidado.
— Essa semana deu bastante água viva, caravela. Tinha bastante na terça-feira, e hoje tem menos. E elas estão queimando. São lindas de ver, mas é meio perigoso. A gente que faz natação lá tem que conviver, né? É raro, mas acontece — conta Lucia.
As espécies de águas-vivas mais comuns são as Aurélias, que causam uma irritação mais leve e não costumam fazer ferimentos mais graves, já que não têm uma peçonha potente para causar muitos danos. Segundo o biólogo marinho Marcelo Szpilman, a sensação é de uma pequena urticária ou queimadura.
Um relato frequente de quem se depara com águas-vivas é tê-las encontrado mortas. Na maior parte dos casos, como explica David Zee, elas não chegam mortas à praia. Elas vão morrendo após empoçarem na areia, já que não tem natação livre, mas podem se reproduzir novamente se forem colocadas outra vez na água. Além disso, no caso das espécies com tentáculos, elas podem continuar queimando mesmo após a morte.
O motivo das queimaduras mesmo após a morte é a presença de células especializadas — milhares por centímetro quadrado — que, espalhadas pelos braços orais continuam causando queimaduras, como explica Szpilman.
— Elas tem uma série de células chamadas “nematocistos”, que explodem por osmose ou por contato físico mesmo após a morte do animal. Então a recomendação é não pegar água-viva mesmo que esteja morta na areia — orienta o biólogo.
Relação com a água esverdeada
A água esverdeada que tomou conta da praia do Arpoador e se estendeu até Ipanema na última semana chegou a afastar os banhistas, além do tempo fechado em uma semana quente de verão. O fenômeno não é novo no Rio e, segundo especialistas, pode se estender por semanas.
Segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), as manchas esverdeadas foram provocadas por uma floração de algas, possivelmente ocasionadas pelas altas temperaturas verificadas nos últimos dias. Com a chegada da frente fria, a maré e os ventos trouxeram as algas, já em decomposição, para as areias das praias.
De acordo com o biológo Marcelo Szpilman, o surgimento das águas-vivas na praia de Copacabana pode não ter relação alguma com o fenômeno da espuma e das águas esverdeadas. Para o oceanógrafo David Zee, pode ser fruto de uma cadeia de sucessão biológica.
— As algas ficam se acumulando e crescendo devido à luz, calor, água, nutriente… A planta cresce e tem um ciclo de vida. Quando ela morre, começa a entrar em decomposição e pequenos peixes se alimentam dessas algas. Algumas águas vivas se alimentam desses peixes — explica o especialista.
Fonte: Extra