Uma raia-borboleta foi capturada com vida pela segunda vez pelo mesmo pescador em Bertioga, no litoral de São Paulo. É possível saber que se trata do mesmo peixe porque ele é monitorado pelo projeto Raias e Tubarões da Baixada Santista, desde o dia 12 de janeiro, quando fez a primeira aparição na região.
A raia de número #288 foi retirada do mar duas vezes por Wesley Shkola, líder da equipe de pesca Kapiloton. Ele pescava na região próxima à praia Vista Linda, quando fez a captura do animal, na última segunda-feira (16). “Trabalho com arrasto de praia. Puxamos o pescado até a faixa de areia e acabou calhando de vir essa raia novamente”, disse.
De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a prática de arrasto de praia consiste em lançar uma rede ao mar com o auxilio de uma canoa para, posteriormente, puxá-la através de cabos. De acordo com o projeto Raias e Tubarões da Baixada Santista, a raia foi retirada da rede de pesca, não possuía ferimentos e foi devolvida ao mar.
O projeto é realizado pelos pesquisadores Alexandre Rodrigues, doutorando na UNESP e coordenador do projeto, e Bianca Rangel, doutoranda na USP. De acordo com eles, as raias e tubarões encontrados por pescadores e que são notificados ao projeto são identificados com uma marca plástica vermelha. Assim, é possível saber um pouco mais sobre a migração e uso da área de raias e tubarões.
“O projeto busca incentivar a soltura imediata das raias e tubarões capturados na pesca artesanal, de forma a garantir a sobrevivência destes animais”, informou o Departamento de Comunicação da iniciativa.
Pescadores
A recaptura de raias não é algo comum e possui números subnotificados, já que muitos pescadores não informam quando algum desses animais são pescados. Segundo a organização, os mesmos pescadores que pescam e matam as raias, podem ser os protagonistas da conservação destes animais. O projeto ainda recomenda a soltura imediata para que seja possível a proteção do ambiente.
Shkola, que capturou a raia pela segunda vez, trabalha no ramo há 11 anos e, há 7, ele auxilia o projeto com o grupo de pescadores Kapiloton. Para Shkola, a importância do projeto está no auxílio à conservação dos animais e do ambiente. “Estou no projeto pela conscientização, não é certo matar esses animais.”
Segundo ele, as pescas são feitas no começo e ao final do dia com uma equipe de ao menos 14 pessoas. Caso uma raia seja arrastada acidentalmente à praia, ele informa à equipe de pesquisa, que cataloga o animal. “Desde o ano passado, o número de raias que tenho pego tem aumentado. Eu faço o monitoramento por meio de uma planilha, catalogo os tamanhos e os locais”, explica.
A raia-borboleta
A espécie Gymnura altavela é conhecida popularmente como borboleta por causa do formato dela, a forma como bate as nadadeiras peitorais e pelas manchas, que se assemelha a uma borboleta. O animal é natural do litoral brasileiro e mede de um a dois metros de comprimento.
Segundo o biólogo marinho Eric Comin, a raia borboleta vive na areia do fundo do mar, se alimenta de pequenos crustáceos e moluscos e não tem valor comercial. “Como todo animal, é importante não manuseá-lo. Deve-se pegá-la com um pano, pegar o anzol da boca e colocá-la de volta pro mar”, afirma.
Comin explica que um dos principais fatores para que essa espécie de raia esteja em risco de extinção é devido à prática de arrasto de camarão. Segundo ele, por viverem na areia do mar, elas acabam sendo capturadas. Ao serem mortas, muitas vezes são jogadas de volta para as águas.
Fonte: G1