Uma raia foi encontrada morta e com uma máscara facial presa ao focinho em Guarujá, no litoral de São Paulo. O caso chamou a atenção de especialistas, e acende um alerta para o descarte incorreto de um objeto que salva a vida dos humanos, mas que tem se tornado um inimigo dos animais marinhos.
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Uma equipe do Instituto Gremar, durante ação pelo Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), se deparou com a raia, já sem vida, no dia 2 de fevereiro. Ela foi encontrada presa a uma máscara de proteção facial na Praia da Enseada. Os técnicos constataram que uma das alças da máscara estava presa ao focinho da raia, o que causou lesões ao animal.
Segundo a bióloga Rosane Farah, do Instituto Gremar, é provável que o animal tenha se prendido acidentalmente à máscara. “O próprio elástico ficou preso ao focinho, e ela deixou de se alimentar, e provavelmente foi isso que levou à morte do animal, além de impossibilitar a natação dele. Ele não conseguiu se locomover, porque tinha algo preso ao corpo dele”, explica.
![Máscara impediu raia de se alimentar e nadar no litoral paulista — Foto: Instituto Gremar](https://s2.glbimg.com/kzoHbH0dnURpt0MIbgyjvciWofI=/0x0:1256x677/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/b/2/4puQNyQTGB6FIaiuD2UA/arraia-1-.jpeg)
A espécie encontrada morta é popularmente chamada de raia-viola ou raia-viola-de-focinho-longo. É um elasmobrânquio da família Rhinobatidae, comum na Baixada Santista. Segundo a bióloga, o animal era um macho adulto. A espécie é protegida, sendo proibida a pesca ou comercialização, por estar ameaçada de extinção. O animal foi recolhido da praia e será utilizado em pesquisas.
Este foi o primeiro registro de um animal que morreu após ficar preso a uma máscara facial na Baixada Santista. Em setembro de 2020, o Instituto Argonauta registrou o caso de um pinguim-de-magalhães que morreu ao ingerir material semelhante em Juquehy. Um laudo apontou que havia uma máscara facial embrulhada no intestino do animal.
![Pinguim foi encontrado morto com máscara embrulhada no estômago no Litoral Norte de SP — Foto: Divulgação/Instituto Argonauta](https://s2.glbimg.com/GTYwG8-ftLf5sJxjhAOsr764cV4=/0x0:1280x646/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/i/7/wv4sKrTBO7uz2fdSYeHQ/whatsapp-image-2020-09-15-at-17.58.31.jpeg)
De acordo Rosane, apesar de não haver mais relatos de mortes dessa forma, os técnicos do Gremar já têm observado o descarte de máscaras cirúrgicas e de pano nas praias do litoral paulista. As duas são prejudiciais ao meio ambiente.
A máscara preta encontrada no focinho da raia era feita de tecido. Ela é mais sustentável, segundo Rosane, porque pode ser lavada e reutilizada. As máscaras cirúrgicas, por sua vez, permanecem contaminadas e não podem ser usadas novamente. Elas acabam sendo produzidas aos milhões, e após sua utilização, é transformada em lixo tóxico. De acordo o Instituto Conservação Costeira (ICC), uma máscara descartável, dependendo da composição, pode demorar até 450 anos para se decompor.
![Raia foi encontrada morta e presa a máscara facial de pano no litoral de SP — Foto: Instituto Gremar](https://s2.glbimg.com/J-AfgJYKnNpwL6boNEoe_sS7cG8=/0x0:1279x627/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/M/X/Uw940HT3awyt1fk8YZvQ/whatsapp-image-2022-03-03-at-12.01.03.jpeg)
Descarte
A redução do consumo de plástico e de materiais que trazem impacto ambiental sempre foi preconizada pelos órgãos ambientais. Porém, segundo Rosane, no caso da máscara, como o uso é obrigatório e se faz necessário para a prevenção de doenças, o foco deve ser no descarte adequado.
“Quando a gente fala em gestão de lixo, a gente vem trabalhando a redução do consumo do plástico em si. Mas, a máscara é uma questão comportamental mesmo. Ela não pode ser descartada no chão, porque vem o vento, a chuva e acaba parando em rios e mares. Quando for descartar, colocar a máscara embalada em um saco e em um recipiente adequado”, orienta.
Com o objetivo de diminuir o impacto ambiental das máscaras, uma campanha iniciada no Reino Unido tem ganhado força mundial: a “Elastic Cut”. A ação é um incentivo para que as pessoas cortem as alças das máscaras após a utilização.
A atitude reduz a possibilidade de os animais ficarem presos ou enroscados, caso o material seja descartado incorretamente e chegue às águas de rios e mares. Os elásticos das máscaras podem enroscar no bico, nas asas ou nas patas dos animais. Além disso, eles podem ingerir a máscara, o que pode causar a asfixia do animal.
“É uma questão de saúde de todos. Todo resíduo descartado de forma incorreta é prejudicial. É um ciclo. Temos que mudar os nossos hábitos em relação ao nosso descarte […] Todas elas [máscaras] são prejudiciais, é uma questão de saúde pública e saúde dos oceanos”, conclui Rosane.
![Descarte de máscaras espalha pelo mundo o risco de contaminação — Foto: Reprodução/GloboNews](https://s2.glbimg.com/Ei7hpd52CQsH4E4DXBjLL-TB9H8=/0x13:640x360/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/i/b/30BPVNSzOavwUswZOWdA/mascara.jpg)
Fonte: G1