O governo do estado quer abrir para a exploração comercial os prédios preservados da Ilha Anchieta, em Ubatuba. No edital de permissão de uso do local onde funcionava uma prisão de segurança máxima, o estado quer um hotel, restaurante, loja de suvenir, além de espaços para eventos.
A Ilha Anchieta é a segunda maior ilha do estado de São Paulo, com cerca de 826 km². Em 1942 tornou-se sede do Instituto Correcional, mantendo os presos mais perigosos para a sociedade, tornando-se uma prisão de segurança máxima. O local também foi palco de uma das mais sangrentas rebeliões do país.
Hoje o local é um Parque Estadual, focado no turismo histórico e ambiental, guardando ainda as ruínas do passado de violência. Com o edital, o governo vai permitir a exploração das edificações ligadas ao antigo presídio. Os prédios foram reformados nos últimos dois anos pelo estado, com investimento de R$ 8 milhões.
O que prevê o edital
O edital vai permitir que empresas explorem o espaço por dez anos. A permissão foi dividida em duas etapas. A primeira delas abrange hospedagem, bilheteria e loja. Além de locação de espaços para eventos, de equipamentos náuticos e de guarda-sóis e cadeiras de praia.
Já o segundo é focado em alimentação e aluguel de quiosques e de outros espaços para eventos.
Os novos estabelecimentos vão funcionar nos prédios que restaram da antiga prisão e complexo militar. Na antiga escolinha, casa Oceano Atlântico e casa de vidro vão funcionar as hospedagens.
Já no centro histórico e cultural e casa do diretor vão funcionar os espaços de alimentação. O edital ainda prevê em outros espaços a instalação de quiosques com churrasqueiras e um espaço multiuso, que vai ser voltado para eventos. Não vai haver novas construções para as instalações.
De acordo com o governo, a empresa que levar a permissão vai ser responsável pela manutenção e limpeza das praias, parte das edificações e das trilhas, além do controle de acesso de visitantes.
O local tem entrada paga. O valor da entrada, segundo o governo estadual, vai ser mantido em R$ 19. Já os serviços, ficam a cargo das empresas.
A permissão chegou a ser criticada por moradores, que alertam para uma possibilidade de aumento no fluxo de turismo e deterioração da área preservada. O local está sob a gestão da Fundação Florestal que informou que, além de ter que seguir o plano de manejo, que estabelece regras ambientais, a atuação vai ser fiscalizada.
“A experiência de estar na natureza, de forma ordenada e controlada, é umas das principais medidas de sensibilização e educação ambiental e isso é o principal objetivo desse projeto. Porque só quem conhece pode preservar”, disse o diretor executivo da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz.
Antiga prisão e fuga de cinema
Em 1942 a Ilha se tornou sede do Instituto Correcional, prisão para os bandidos mais perigosos da época. O local foi escolhido para isolar os criminosos da sociedade. Há registros de que o local chegou a abrigar até 480 homens.
A segurança era feita por 49 militares da Força Pública, que serviam no Destacamento 314, responsável pela Ilha Anchieta, e respondiam ao 5º Batalhão de Caçadores de Taubaté (atual 5º Batalhão da Polícia Militar). Além dos militares, 22 guardas de presídio faziam a vigia dos pavilhões. No entanto, os vigias não tinham a autorização para portarem arma de fogo.
Como ilha, é um local isolado, quente e úmido, o que gerava reclamações e problemas de saúde em que estava recluso nas condições. Além disso, há relatos de que, com a distância do continente e monitoramento, presos eram torturados. Em 1947, o secretário da Segurança Pública, Flodoaldo Gonçalves Maia, foi pessoalmente ao presídio para tentar parar a violência que estava acontecendo.
Em 1952 o local foi palco de uma das mais sangrentas rebeliões vistas no país. Os presos desarmaram um soldado, invadiram as casas de militares que ficavam no local e fizeram todos reféns.
Todas as celas foram abertas e alguns deles conseguiram fugir em uma lancha usada para o transporte de quem chegava à prisão. O resultado da rebelião, segundo o Inquérito Policial, foi de 25 mortos, sendo 15 detentos e 10 agentes estatais. Dos 129 fugitivos, 108 foram recapturados e seis detentos foram dados como desaparecidos.
Em 1955, o restante dos detentos que permaneceram na Colônia Correcional foi transferido para a Casa de Custódia de Taubaté e o Presídio da Ilha Anchieta foi oficialmente desativado.
Fonte: G1