Veículos e cães ameaçam aves migratórias em praia preservada no litoral de SP, alertam especialistas

A Praia de Taninguá, em Peruíbe, no litoral de SP, é tida com um espaço de descanso e reprodução de aves, incluindo algumas migratórias, que escolher o local pelas características preservadas, como a vegetação nativa, com plantas herbáceas, arbustivas e arbóreas. Apesar disso, especialistas afirmam que os animais têm sofrido impactos de ações humanas, devido a maior circulação de veículos e cães pelo local.

Diante do cenário onde diversas aves perdem a vida por exaustão ou atropeladas, grupos ambientalistas trabalham para que a praia seja mantida preservada e se torne um local cada vez mais seguro para os animais que utilizam o local.

Especialistas afirmam que circulação de veículos e cães em praia preservada em SP impactam vida e reprodução de aves migratórias — Foto: Arquivo Pessoal e Karina Ávila
Especialistas afirmam que circulação de veículos e cães em praia preservada em SP impactam vida e reprodução de aves migratórias (Foto: Arquivo Pessoal e Karina Ávila)

O Conselho Municipal de Proteção e Bem-Estar Animal de Peruíbe (Cobem), atendendo ao Projeto Aves Limícolas, ao Movimento Contra as Agressões à Natureza (Mocan) e ao Projeto Trinta-Réis, solicitou que a prefeitura cumprisse a legislação, que prevê que veículos não autorizados não podem circular em faixas de areia, bem como cães soltos. O pedido foi levado ao Ministério Público (MP) em 2019.

Segundo o Cobem, em 2020 o MP determinou que a Prefeitura de Peruíbe bloqueasse a passagem de veículos na faixa de areia da Praia de Taninguá, que fica próxima a Itanhaém. A determinação foi cumprida mais de um ano depois, em 26 de outubro deste ano com a instalação de estacas de madeira. A medida inibe que veículos não autorizados vindos de Itanhaém trafeguem pela orla.

Imagens de veículos não autorizados foram encaminhadas ao Ministério Público — Foto: Arquivo Pessoal
Imagens de veículos não autorizados foram encaminhadas ao Ministério Público (Foto: Arquivo Pessoal)

A engenheira agrônoma e presidente do Combem, Mari Polachini, disse que o fechamento com estacas de madeira não supre a necessidade da praia, pois, segundo ela, existem outras passagens – inclusive ilegais – para carros entrarem na faixa de areia da Praia de Taninguá, uma série de outras ações vão de encontro com a vida e preservação das aves que utilizam o local.

Cães soltos, corridas de cavalos, passagem de boiadas e saltos de parapente que pousam na praia também contribuem negativamente para a vida e saúde dos animais, segundo Polachini. Por isso, ela entende que as estacas de madeira foram “o início de um longo trabalho” que inclui, principalmente, a conscientização da população.

Como as aves são afetadas?

O biólogo e pesquisador Bruno Lima explicou que, pelas características que a Praia de Taninguás ainda mantém, aves limícolas migratórias que vêm do polo norte fugindo do frio encontram no local o ambiente ideal para descansar. As aves limícolas são parentes dos Quero-queros protegidos por acordos nacionais e internacionais.

Além das aves limícolas migratórias, outras não migratórias como os Piru-pirus e a Batuíra-de-coleiras, usam a praia para fazer ninhos na areia e se reproduzir. Lima pontua que a circulação de veículos e a incidência de cães contribuem negativamente para a vida das aves.

Maçarico-de-papo-vermelho, que segundo Bruno Lima é uma espécie ameaçada, foi atropelado na orla da Praia de Taninguá (Foto: Arquivo Pessoal)
Maçarico-de-papo-vermelho, que segundo Bruno Lima é uma espécie ameaçada, foi atropelado na orla da Praia de Taninguá (Foto: Arquivo Pessoal)

“Ovos e filhotes são esmagados por carros ou devorados por cães”, explica Bruno. Ele conta que as aves também são impactadas pela exaustão após voarem por duas semanas do Canadá até a costa de Peruíbe. Cansadas, elas acabam atropeladas ou espantadas por cães na praia. “O perigo de serem espantadas é que ao fugir gastam energia desnecessária e acabam morrendo.”

O biólogo, que pesquisa no Projeto Aves Limícolas, ressaltou que os pedidos junto ao Cobem vão além do fechamento da praia. O grupo atua com políticas públicas e educação ambiental para conscientizar a sociedade sobre a importância de respeitar a Praia de Taninguá e as aves que utilizam a região.

Prefeitura de Peruíbe

Em nota, a Prefeitura de Peruíbe informou que contribui para o bem-estar da Praia de Taninguá por meio de medidas como o fechamento com estacas de madeira, fiscalização constante, sinalização e conscientização.

A administração municipal ressaltou que caso um veículo não autorizado seja flagrado trafegando pela orla de alguma praia na cidade, ele será autuado e multado pela Secretaria Municipal de Defesa Social, pela Guarda Civil Municipal (GCM) ou, ainda, pelo Departamento Municipal de Mobilidade Urbana.

Sinalização na Praia de Taninguá e barreira de estacas de madeira colocada na faixa de areia — Foto: Bruno Lima/Arquivo Pessoal
Sinalização na Praia de Taninguá e barreira de estacas de madeira colocada na faixa de areia (Foto: Bruno Lima/Arquivo Pessoal)

Fonte: G1

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