O surto de virose que atinge a Baixada Santista, no litoral de São Paulo, não impediu que turistas visitem a praia neste início de ano. Mesmo com o aumento dos casos na região, 123.251veículos seguiram para o litoral entre 0h de sexta-feira (3) e 11h40 deste sábado (4) . A informação é da Ecovias, que administra o Sistema Anchieta-Imigrantes.
As viroses geralmente afetam o trato gastrointestinal [sistema digestivo], provocando sintomas como diarreia, náuseas, vômitos, cólicas e febre. A duração pode variar de um dia a uma semana, e a desidratação pode ser classificada como leve, moderada ou severa.
Na cidade de Guarujá, por exemplo, várias pessoas se dirigiram às unidades de saúde relatando o problema entre o fim do ano e o início de janeiro.
A prefeitura informou que há suspeita sobre vazamentos e ligações clandestinas de esgoto, na região da Enseada, que podem estar causando o aumento dos casos. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) teria sido notificada, mas não retornou sobre o tema.
Por meio de nota, a Sabesp informou que equipes atuaram rapidamente para regularizar o funcionamento da rede de esgoto de Guarujá e Itanhaém, onde também houve denúncias de vazamento. Segundo a companhia, os serviços foram concluídos com a limpeza e higienização do local.
Virose
O infectologista Leandro Curi explicou que vírus são transmitidos pelo ar, pela água ou alimentos contaminados. A água, por exemplo, é um local propício para esses agentes infecciosos por ser de fácil acesso ao ser humano. “Pode estar na água do rio, do mar, na água que a gente bebe”, disse ele.
Ele ressaltou que o termo “virose” é utilizado popularmente para designar várias doenças, mas define somente as causadas por vírus.
Segundo o especialista, é comum que doenças causadas por bactérias apareçam no esgoto. Um exemplo é a cólera, tipo de gastroenterite bacteriana. Assim como elas, os vírus também podem estar presentes nesse ambiente.
Curi explicou que, no caso dos sintomas que têm sido observados na Baixada Santista, é menos provável que o vírus esteja contaminando pelo contato com a pele. “A gente acredita que seja mais da ingesta dessa água ou no uso dessa água para higienização de alimentos ou hidratação direta”, disse.
Atendimento
Desde dezembro o crescimento das ocorrências na região tem sobrecarregado as unidades de saúde, que estão lotadas, e as farmácias, que enfrentam escassez de medicamentos para tratar os sintomas.
A Sabesp afirmou que as fortes chuvas podem sobrecarregar o sistema, já que ele não foi projetado para a entrada de água pluvial. “A Sabesp informa que monitora o sistema de esgotamento sanitário da Baixada Santista, com equipes mobilizadas para manter sua plena operação”, destacou.
Além da manifestação da Sabesp, a administração municipal de Guarujá aguarda o resultado de análises de água de abastecimento, coletadas mensalmente em pontos estratégicos da cidade, que encaminhou ao Instituto Adolfo Lutz. A intenção é tentar esclarecer a origem dos casos de gastroenterocolite aguda, que causa inflamação no estômago, intestino delgado e intestino grosso.
De acordo com a prefeitura, tanto a UPA Enseada como o PAM Rodoviária tiveram aumento de infraestrutura para que os pacientes possam receber o soro intravenoso. Desde a última sexta-feira, as unidades contam com o reforço de mais um médico e um enfermeiro.
Já as unidades da família dos bairros Jardim dos Pássaros, Vila Rã e Cidade Atlântica, que faziam apenas atendimento eletivo das 7h às 17h, agora estão abertas até as 22 horas sem a necessidade de agendamento de consultas.
Números
Confira abaixo dados que reforçam a alta de casos de virose entre os dias 1º e 31 de dezembro nas cidades da Baixada Santista. as informações foram enviadas pelas prefeituras da cidade.
- Bertioga: O Hospital Municipal da cidade registrou 300 casos de virose;
- Cubatão: Em janeiro, a cidade registrou 184 atendimentos nas unidade de saúde. A prefeitura não divulgou os dados de dezembro.
- Guarujá: Foram 2.064 atendimentos nas unidades de Pronto Atendimento, sendo que o município registrou 1.457 em novembro;
- Itanhaém: Foram registrados 790 casos.
- Mongaguá: Houve um aumento de 10% no Pronto-Socorro Central e 15% no Hospital da cidade. A prefeitura não informou o número de casos;
- Peruíbe: A administração municipal não informou a quantidade de notificações de virose, mas afirmou que não teve um aumento;
- Praia Grande: A prefeitura informou que as unidades de saúde estão realizando atendimentos de pacientes com virose com maior frequência nos primeiros dias no ano. Mas, de acordo com a administração municipal, não foi necessário contabilizar os casos porque a cidade não está em cenário de surto.
- Santos: Teve 2.264 atendimentos nas três UPAs em dezembro. Nos primeiros dias do ano, já foram 273.
- São Vicente: Foram registrados 1.754 casos. Em novembro, tiveram 1.657. A prefeitura disse que não teve superlotação e falta de analgésicos e antitérmicos nas farmácias da cidade.
As prefeituras de Guarujá, Santos, Bertioga, Mongaguá e Peruíbe explicaram que as notificações de viroses não são obrigatórias para o Ministério da Saúde. Por isso, o levantamento foi feito com base no número de atendimentos relacionados à doença nas unidades de saúde dos municípios. A administração do município de Itanhaém não respondeu sobre o vazamento na praia.
Como prevenir?
O governo estadual divulgou medidas preventivas a serem adotadas para evitar a Doença de Transmissão Alimentar (DTA) no verão, quando há grande concentração de turistas por conta das festas de fim de ano e férias escolares. Veja:
- Evite alimentos mal cozidos;
- Mantenha os alimentos bem refrigerados, com atenção especial às temperaturas dos refrigeradores e geladeiras dos supermercados onde os alimentos ficam acondicionados;
- Leve seus próprios lanches durante passeios ao ar livre;
- Observe bem a higiene de lanchonetes e quiosques;
- Lave as mãos antes de se alimentar;
- Tenha atenção redobrada com comidas em self-service;
- Beba sempre água filtrada;
- Não consuma gelo, “raspadinhas”, “sacolés”, sucos e água mineral de procedência desconhecida.
Também é importante prestar atenção à balneabilidade das praias – que define se o mar está próprio ou não para o banho. O boletim divulgado na quinta-feira (2) indica que, das 175 praias monitoradas no litoral, 38 apresentam condição imprópria. Confira no site da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
Fonte: G1