Sobrepesca, poluição e perda de habitats ameaçam espécies marinhas da costa brasileira

A poluição, a perda de habitats e a sobrepesca estão colocando em risco de extinção cerca de uma centena e meia ou, mais precisamente, 146 espécies de animais marinhos do Brasil. Esse número representa 5,7% das 2.590 catalogadas e analisadas pelo Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (SALVE), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), uma plataforma online que reúne informações sobre cerca de 15 mil espécies de animais do Brasil avaliadas quanto a seu risco de extinção.

Segundo o oceanógrafo Agnaldo Silva Martins, do Departamento de Oceanografia e Ecologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), existem muitas ameaças, mas há uma grande discrepância entre elas. “Algumas, como as mudanças climáticas e o plástico, recebem muita atenção da mídia, mas não acho que sejam tão importantes, enquanto outras podem ser muito mais graves, como a destruição de habitats e a pesca, e recebem pouca visibilidade”, explica.

Eretmochelys imbricata, ou tartaruga-de -pente, espécie considerada Em Perigo na costa brasileira (Foto: Um Só Planeta)

Ele diz que podem ser citadas ainda a mineração e a poluição, principalmente a orgânica (causada por esgotos), como fatores importantes de impactos para as espécies e os ambientes marinhos. “Nem sempre as consequências diretas sobre as espécies são os mais graves”, alerta Martins. “Alguns impactos não as atingem diretamente, mas destroem ou fragilizam os ambientes onde elas vivem e acabam por eliminá-las aos poucos.”

O biólogo e doutor em Oceanografia, Luís Ernesto Arruda Bezerra, do Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR) da Universidade Federal do Ceará (UFC), lembra que o Brasil possui uma mega diversidade, principalmente ao longo da sua extensa costa de cerca de 7.300 km – ou 9.200 km se forem consideradas as saliências e reentrâncias do litoral. “Várias espécies estão ameaçadas, no entanto, principalmente por poluição, perda de habitats, sobrepesca e presença de invasoras”.

De acordo com Bezerra, a presença destas últimas, como por exemplo com o peixe-leão (Pterois volitans), também coloca em risco a biodiversidade costeira e marinha do Brasil. “Ele pode trazer grandes problemas para as espécies locais.” Trata-se de um animal nativo dos oceanos Índico e Pacífico, que foi levado de forma acidental para o Caribe, na década de 1990.

De lá, ela se espalhou e chegou à costa brasileira. Com tamanho que pode bater os 15 cm, o peixe-leão é considerado um dos mais venenosos do mundo. Ele já foi encontrado em vários fragmentos do litoral do país, desde o Sudeste até o Norte. A espécie é uma ameaça à fauna marinha local, já que é uma predadora muito eficiente em ambientes de recifes.

O biólogo Cristiano de Campos Nogueira, pesquisador de apoio científico à Coordenação de Avaliação do Risco de Extinção das Espécies da Fauna (Cofau), do ICMBio, lembra que quando se fala do ecossistema marinho no Brasil é preciso levar em conta que ele varia muito ao longo de toda a sua extensão. “Há regiões e correntes diferentes, áreas com recifes e outra com profundidade maior”, explica. “Há ainda as ilhas e suas costas e litorais. Ou seja, há uma variação muito grande e isso interfere bastante na avaliação das situação das espécies.” Além disso, as ameaças também são variáveis.

A maior preocupação, no entanto, é com as regiões Sul e Sudeste. “São mais populosas, com grandes centros urbanos e, por isso, a pesca é mais intensa e tem mais impactos sobre as espécies”, diz Nogueira. “Nessa época do ano, inclusive, há um afluxo de turistas para as praias, por exemplo. E as pessoas vão querer consumir peixe e pescados. Tem uma pressão maior ainda do que nas regiões Norte e Nordeste.”

Independentemente disso, Nogueira destaca que dentre todos os grupos animais, incluindo invertebrados, o mais ameaçado proporcionalmente é o dos tubarões e arraias (ou raias). “A maioria das espécies que ocorrem na costa brasileira está em risco”, diz. “Entre um terço metade, ou uma a cada três ou cada duas espécies, está em risco. É uma situação muito preocupante.”

Os números do SALVE confirmam a avaliação. Das 47 espécies classificadas na categoria Criticamente em Perigo, nada menos que 30 são de tubarões e raias. Depois vem os invertebrados com seis; aves e peixes com quatro cada; mamíferos, com duas e répteis com uma.

Para Martins, da UFES, o grande problema para acabar com as ameaças é a governança. “Há órgãos ambientais que estudam os riscos e sugerem soluções para os problemas que podem ser bem efetivas, como leis para proteção ou proibição de captura e principalmente a criação de áreas protegidas ou santuários para essas espécies”, explica. “O problema é que existem grandes interesses econômicos como turismo, pesca, portos, navegação e petróleo e esses setores costumam ter voz mais ativa junto aos governos em diversas esferas.”

Fonte: Um Só Planeta

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