“Passei por muitos dias obscuros”. Essa é a descrição da jornalista Nooria Sharifi, de 29 anos, sobre seus dias até a chegada em Praia Grande, na última sexta-feira (30). Refugiada do Afeganistão, ela relata que se viu obrigada a fugir do país natal para escapar das ameaças do Talibã, por sua atuação como repórter e ativista dos direitos das mulheres.
Acompanhada do marido e dos filhos, de 6, 9 e 11 anos, a afegã relata que seu clamor contra a falta de voz das mulheres fez com que fosse ameaçada de prisão. Com isso, imigrou para o Irã e, depois, para o Brasil. Foram 17 dias vivendo dentro de um aeroporto até que, finalmente, pudesse ter um abrigo na colônia de férias do Sindicato dos Químicos de São Paulo, no Jardim Solemar.
Apesar de desconhecer a Língua Portuguesa – ela fala apenas o Farsi, uma variação do persa –, ela sonha em conquistar uma nova vida no Litoral paulista. Mas nem sempre foi assim: no início, confessa ter sofrido um mau pressentimento sobre o Brasil, por desconhecê-lo. Hoje, sente-se feliz aqui. “É difícil, mas estou tentando aprender o idioma, começar a minha luta de novo e trabalhar”.
A praia e não era nada
Nooria viu a praia pela primeira vez após ter sido abrigada em Praia Grande. Um momento que lhe rendeu uma bela reflexão. “Foi ótimo, como se eu tivesse acabado de nascer, esqueci o passado. Pensei em todas as dores e tristezas que havia deixado para trás, respirei ar fresco e senti uma nova vida em meu progresso. Passei muitos dias ruins, mas estou muito feliz”.
Mas foi um longo caminho até encontrar essa felicidade. “Eu não era nada”, diz, ao descrever como se sentia diante das ameaças feitas contra ela e a família. Com tristeza, conta de sua dor maior: ter deixado a mãe.
Agora, sonha que seus filhos comecem os estudos, aprendam o português. E que consiga trazer toda a família e trabalhar como jornalista, a partir de seu idioma nativo. A política sempre esteve presente em sua vida e, antes do domínio do Talibã, Nooria atuou desempenhando funções no gabinete do ex-presidente do Afeganistão.
“Só estou preocupada em recomeçar minha vida, preciso da ajuda das pessoas. Eu vim aqui (em Praia Grande) temporariamente, por um mês. Não se sabe onde ficará minha residência permanente. Estamos um pouco preocupados, mas confio no povo do Brasil, que me apoia e me ajuda para uma nova vida”.
A incerteza sobre os seus próximos passos ainda é motivo de aflição. A expectativa é de que os refugiados fiquem 30 dias na colônia de férias, mas o prazo pode ser estendido.
Nooria ainda não teve tempo para conhecer Praia Grande. Com tão pouco tempo na Cidade, conheceu apenas a praia. Também considera as pessoas muito gentis. Mas ainda é cedo para falar sobre o Município. Porém, uma coisa é certa e reafirmada: ela está muito feliz de ter deixado para trás o medo que sentia.
Próximos passos
Nesta quinta (6) e sexta-feira (7) acontecerá um mutirão focado em obter a documentação necessária de todos afegãos que estão no Sindicato, em Praia Grande. É o primeiro passo para garantir que eles tenham acesso a programas assistenciais e seja possível a utilização plena de serviços públicos e municipais, como a educação.
Segundo a Agência Brasil, desde 2021, quando os radicais do Talibã assumiram o poder no Afeganistão, milhões de afegãos têm deixado o país para fugir do regime restritivo. O Brasil passou a ser destino de parte deles quando foi publicada uma portaria interministerial, em setembro de 2021, autorizando o visto temporário e a residência por razões humanitárias.
Fonte: G1