Em menos de uma semana de atividade, pesquisadores do Projeto Aruanã capturaram, examinaram, identificaram e devolveram à natureza 52 tartarugas-verdes (Chelonia mydas) na região da Marina da Glória, na Zona Sul do Rio. O objetivo da pesquisa — realizada em parceria com a BR Marinas, o AquaRio e a Petrobras — é avaliar a saúde desses animais, identificar seus hábitos e reunir dados que possam influenciar ações de preservação promovidas por governos e instituições ligadas ao meio ambiente.
A coordenadora geral do projeto, Suzana Guimarães, explica que a captura das tartarugas marinhas é uma metodologia de pesquisa praticada no Brasil e no mundo e exige equipe especializada e experiente para que seja realizada com ética e segurança tanto para os animais quanto para os profissionais.
— A captura na Marina da Glória já é almejada pelo projeto desde 2019 e, somente este ano, através das parcerias firmadas e do desenvolvimento de uma técnica adequada para a captura desses animais nesta região, que o plano saiu do papel. Estamos felizes com o sucesso nesse início de trabalho e já identificamos que há o comportamento de residência destes indivíduos no local, onde permanecem se alimentando das algas que crescem nos molhes artificiais. Mas também já identificamos que a poluição é um fator de ameaça a eles, tanto pela presença do lixo flutuante quanto de esgoto despejado in natura — diz Suzana Guimarães.
Após a captura dos animais são feitos registros como o peso, marcação com anilhas de identificação e coletas de sangue e de tecidos para estudos genéticos. Alguns animais capturados apresentaram tumores de fibropapilomatose, doença que acomete as tartarugas marinhas em todos os oceanos. Apesar de ser uma enfermidade de caráter benigno, a fibropapilomatose é uma doença debilitante e potencialmente fatal, já que esses tumores podem dificultar comportamentos naturais como a locomoção, respiração, visão e alimentação. A tartaruga-verde é a espécie mais acometida, mas não existem dados concretos sobre a razão da alta prevalência da doença nessa espécie. Especula-se, no entanto, que esteja associada ao fato de permanecem longos períodos se alimentando em regiões costeiras com alto grau de contaminação.
— As águas calmas da Baía da Guanabara atraem esses animais que vivem tranquilamente ali, se alimentando das algas presas às rochas. Com esse trabalho, vamos conhecer melhor essas “moradoras” da região e contribuir para o seu bem-estar — afirma João Fellipe Neves, coordenador ambiental da BR Marinas.
Há mais de dez anos o Aruanã realiza capturas intencionais na Praia de Itaipu, em Niterói (RJ), local onde nasceu o projeto. A decisão de iniciar as capturas intencionais dos animais na Marina da Glória também foi embasada na análise do banco de dados composto a partir do Programa Ciência Cidadã. Por meio deste programa, a equipe do projeto incentiva a comunidade a registrar, em fotos ou vídeos, qualquer encontro com as tartarugas marinhas, estando elas vivas ou mortas, e a enviar as informações ao projeto pelas redes sociais, site institucional ou pelo número de celular.
Nos últimos dois anos foram obtidos registros de 578 tartarugas marinhas das cinco espécies que ocorrem no Brasil, sendo 365 de tartarugas-verdes (Chelonia mydas) na região da Baía de Guanabara.
Fonte: Um Só Planeta