Peixe-leão não oferece risco de acidentes para turistas e banhistas, dizem pesquisadores

O peixe-leão, espécie encontrada diversas vezes no litoral cearense nas últimas semanas, não oferece riscos para banhistas e turistas, conforme pesquisadores que participaram de uma reunião proposta pelo Observatório Costeiro e Marinho do Ceará (OCMCeará), que aconteceu na última sexta-feira (6). Os animais geralmente preferem viver em ambientes rochosos e em corais.

O pesquisador Tommaso Giarrizzo iniciou as discussões explicando sobre o primeiro registro do peixe no litoral cearense, em 12 de março de 2022. Ele disse que já foram registrados mais de 40 animais entre Bitupitá e Itarema, um trecho de 160 km.

Os animais, com tamanho corporal entre 14 e 15 cm, são todos juvenis e têm sido encontrados em locais rasos, em currais de pesca, marambaias, e recifes naturais. “Nenhuma ocorrência desta espécie invasora foi, até então, comprovada nas praias turísticas do litoral do estado”, disse Tommaso.

A origem do recente aumento no aparecimento de peixes-leão no Ceará pode estar ligada a uma migração da região do Caribe, onde há maior abundância da espécie. Lá, cerca de 70% dos acidentes registrados estão relacionados à manipulação do peixe em capturas, segundo estudo citado por Giarrizzo. Além disso, não há ainda registros de peixe-leão em locais com mergulho para fins turísticos ou recreativos no litoral do Ceará. “Portanto não existe, até o momento, riscos de acidentes com turistas e banhistas”, disse.

Peixe-leão já foi registrado 40 vezes nas últimas semanas no litoral cearense. (Foto: Reprodução/BBC)

A Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema) salienta que o peixe-leão não apresenta valor comercial, ou seja, não deve ser colecionado ou utilizado na gastronomia. Os exemplares capturados devem ser encaminhados para o Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) ou para o Instituto Federal do Ceará (IFCE) em Acaraú para poderem ser estudados.

Já Vidal Haddad Jr., professor da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista, falou sobre a invasão do peixe-leão nos EUA e Caribe e explicou que o veneno do peixe não é letal e, tampouco, pode causar paradas cardíacas.

“O veneno é cardiotóxico e citotóxico além de conter acetilcolina e neurotoxinas que afetam a transmissão neuromuscular. O contato com o veneno do peixe causa dor intensa, o que leva a náuseas, cefaleia, além de causar eritema e inchaço no local”, explicou o pesquisador.

Ele estuda o assunto há 30 anos e é consultor do Ministério da Saúde para o Programa de Animais Peçonhentos (aquáticos). Ele explicou o que deve ser feito em casos de acidente, mas tranquilizou com relação à probabilidade desses casos.

A recomendação, em caso de acidente, é mergulhar o local afetado em água quente e procurar atendimento médico. Ele também destacou que o peixe-leão não representa perigo para banhistas, uma vez que se trata de um peixe que vive em ambientes recifais/rochosos e que acidentes com banhistas nunca foram relatados.

Reunião do OCMCeará

A reunião, realizada sexta-feira (6), foi proposta pelo OCMCeará, no âmbito do programa Cientista Chefe Meio Ambiente (Funcap/SEMA/Semace). O encontro virtual contou com a presença de mais de 60 participantes, e teve como finalidade discutir a presença do peixe-leão em águas cearenses e repassar cuidados e medidas preventivas a serem tomadas a fim de evitar acidentes, e esclarecer outras dúvidas possíveis.

“Também foi discutida a importância de repassar informações às secretarias municipais de Saúde, Meio Ambiente, Turismo e Pesca, sobre os impactos e ameaças que a espécie representa para o litoral cearense”, disse secretário de Meio Ambiente, Artur Bruno.

A reunião foi conduzida pelo professor Fábio de Oliveira Matos, coordenador do Observatório. Além de professores e pesquisadores da equipe do Programa Cientista Chefe e representantes das secretarias estaduais de Saúde, Turismo e Meio Ambiente, também participaram do encontro, representantes de diversos órgãos dos 20 municípios da costa cearense.

Os participantes concluíram que “através do fortalecimento de um monitoramento participativo e expedições científicas acompanhadas por pescadores treinados será possível elucidar a real magnitude do problema, entender melhor a distribuição destas espécies e propor um efetivo plano de ação para o controle deste invasor”, conforme a Sema.

Após a fala de alguns secretários municipais, foi identificada a necessidade de um plano de ação, organizando oficinas nas comunidades costeiras com o objetivo de esclarecer sobre os perigos que o peixe-leão representa e treinar pessoas para que possam manipular o peixe com segurança em caso de capturas e repassar estas valiosas informações para os órgãos competentes.

Representantes da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) e da Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) irão se reunir nesta semana para estabelecer diretrizes no sentido de operacionalizar a realização das oficinas nos municípios, bem como a viabilidade da distribuição de EPIs para os pescadores que realizam trabalhos em currais de pesca.

Fonte: G1

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