Os irmãos brasileiros que repercutiram em 2019 ao ficarem à deriva por dias em um veleiro na Polinésia Francesa, durante uma tempestade no Oceano Pacífico Sul, estão próximos de realizar o sonho de dar a volta ao mundo a bordo da embarcação. A expectativa é que isso seja concluído em março de 2025, sete anos após o início da aventura, que começou em 2018.
Celso Pereira Neto, de 32 anos, e Lucas Faraco, de 29, chamaram a atenção das redes sociais em julho de 2019, quando tiveram um problema no veleiro deles – o ‘Katoosh’ – e precisaram enfrentar uma tempestade com ventos de mais de 100 quilômetros por hora para não morrerem.
Eles são de Ubatuba (SP) e têm forte ligação com veleiros desde que nasceram – os dois foram criados em um barco em que os pais viviam. A família é de Ribeirão Preto (SP), mas decidiu largar a vida convencional para viver em um barco no litoral paulista.
Apenas quando o irmão mais velho, Celso, completou seis anos, a família decidiu se estabilizar em Ubatuba por conta da escola dos dois, que até então eram crianças e precisavam estudar.
Eles se formaram e começaram a fazer faculdade, mas um sonho – novamente relacionado ao veleiro – mudou tudo: eles decidiram dar a volta ao mundo a bordo do veleiro ‘Katoosh’, que era o nome de um cachorro de estimação da família.
Para concretizar o sonho, então, os irmãos começaram a usar a embarcação para vender passeios no Litoral Norte de São Paulo e juntaram um dinheiro, que foi usado para uma grande reforma no barco, afim de deixá-lo preparado para uma missão do tamanho de uma volta ao mundo.
Com tudo em ordem, a missão começou no dia 5 de março de 2018, quando eles deixaram Ubatuba. De lá, os irmãos percorreram toda a costa brasileira e passaram pelas regiões do Caribe, Ilhas Virgens Britânicas, Colômbia, Canal do Panamá, Polinésia Francesa, Fiji, Nova Zelândia e Indonésia, onde estão atualmente.
“O veleiro é a nossa casa e o nosso meio de locomoção”, afirma Celso Pereira Neto.
“Conhecemos muitos lugares novos. É como se fosse um ‘mochilão’ de barco. 90% do tempo ficamos parados, em terra, aproveitando esses lugares. Só 10% do tempo estamos no mar. Por isso já faz tempo que começamos, mas o sonho está próximo”, completa Celso, que afirma que a ideia era completar a volta ao mundo em três anos.
Agora, o plano da dupla é voltar para Ubatuba no dia 5 de março de 2025, quando o início do trajeto completará exatamente sete anos.
Eles ainda não têm previsão exata de quando deixarão a Indonésia, mas os próximos passos são navegar pelo Oceano Índico – considero perigoso por conta das ondas e do tempo – e seguir para a África, antes de chegar novamente ao Brasil.
Desde o início da aventura, eles já conheceram diversos países, culturas e povos diferentes, o que tem enriquecido ainda mais a experiência.
“Em alguns casos deixamos o barco atracado em um lugar e pegamos um voo para um país próximo. Dependendo do lugar, a passagem de avião é muito barata. É o caso da região da Indonésia, por exemplo”, afirma Celso.
“Nós vamos para onde temos vontade, mas depende da meteorologia também. As condições do tempo têm que estar favoráveis. Não podemos arriscar.”
De acordo com ele, o planejamento era parar em vários locais do planeta para trabalhar e conseguir dinheiro. Apesar disso, a repercussão dessa aventura nas redes sociais tem sido suficiente para mantê-los. Com isso, a única preocupação ao parar em um país é aproveitá-lo.
“O objetivo inicial era trabalhar nesses lugares para conseguir dinheiro e nos sustentar, mas tivemos sorte e, antes de sairmos, o projeto ficou muito conhecido e ganhamos muito seguidores. Então, hoje conseguimos nos manter com redes sociais e patrocínios”, diz Celso.
Problema na Polinésia Francesa
Embora tudo pareça realmente ser um sonho, os irmãos Celso e Lucas já tiveram que enfrentar grandes problemas – um deles quase os matou, inclusive.
No dia 3 de julho de 2019, quando estavam a caminho da Polinésia Francesa, o leme do barco – parte responsável por nortear a embarcação – quebrou. No meio do mar, não havia para quem pedir ajuda.
“Faltavam oito dias para chegar na Polinésia Francesa, quando do nada escutamos um barulho muito alto no barco. Ele balançou muito e aí vimos que o leme quebrou”, lembra Celso.
Como se isso não bastasse, o Oceano Pacífico Sul teve uma tempestade com chuva e ventos de mais de 100 quilômetros por hora.
“Nós tivemos dois azares grandes. Primeiro quebrou o leme do barco e pouco tempo depois pegamos uma tempestade muito forte.”
“Nós sabíamos que teria uma tempestade. Conseguimos acompanhar a previsão e estávamos nos preparando para isso, mas com o barco quebrado piorou tudo. A gente ainda estava em um corredor de ilhas. Se batesse em uma ia ser fatal”, conta.
A solução foi usar cabos que tinham no barco para conseguir guiá-lo. Apesar da dificuldade, o plano deu certo e eles conseguiram atracar no dia 6 de julho de 2019.
“Foi o maior desafio da nossa vida. Durante a operação chegaram salvadores da Polinésia Francesa de helicóptero, mas eles só conseguiriam nos salvar e teríamos que deixar o veleiro para trás. Não queríamos abandonar o barco e ficamos. Foi muito difícil, mas no fim deu tudo certo.”
Ao chegar na Polinésia Francesa, eles descobriram que a principal hipótese para o barco ter quebrado é a colisão com uma baleia.
“Chegamos lá e o povo que tivemos contato nos deu a certeza que colidimos com uma baleia, pois naquela região tinha muitas. Provavelmente ela estava dormindo e foi acertada por nós. Mas como é um animal enorme, foi suficiente para quebrar o veleiro”, conclui Celso.
Fonre: G1