Avanço do nível do mar cria barranco em acesso à praia do litoral de SP

Um barranco de aproximadamente um metro se formou com o avanço do nível do mar no acesso à Praia da Barra do Una, em Peruíbe (SP). A Fundação Florestal (FF), vinculada ao Governo de São Paulo, afirmou que está avaliando medidas para conter o processo erosivo, ou seja, a perda de areia. O diretor-executivo do órgão reforçou que não há riscos imediatos para a comunidade local.

O registro foi feito pelo ambientalista Plínio Melo, da ONG Mongue – Proteção ao Sistema Costeiro, na última semana. Ele afirmou que acompanha a situação na Barra do Una há anos e sempre notou a modificação, mas nunca de forma tão severa como agora.

Para o ambientalista, não adianta colocar sacos de areia para conter a erosão, sendo esta uma das medidas estudadas pela FF (veja detalhes a seguir). “[Isso] é brincar com dinheiro público e levar o problema mais adiante. O que a gente tem que ter é cuidado com o meio ambiente”, afirmou Melo.

Estudo para contenção

Barranco se forma com avanço do mar em praia da Barra do Una, em Peruíbe (SP) (Foto: Plínio Melo/ Reprodução)

O diretor-executivo da Fundação Florestal (FF), vinculada à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), Rodrigo Levkovicz, afirmou que medidas para a contenção da erosão na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Barra do Una estão sendo estudadas.

Segundo ele, o estudo “envolve ações de restauração da restinga e também da colocação de barreiras para conter esse processo erosivo. Uma das hipóteses é a utilização de ‘bags’ de areia, que já é um estudo iniciado pelo Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA)”, explicou.

Levkovicz classificou a situação atual como uma ‘fase de concepção do projeto’, ou seja, ainda não foram definidas as ações para solucionar o problema. “Não está fechado que será isso [bags de areia], mas o que vai acontecer é que tomaremos [decisões sobre] medidas concretas até o final do ano”.

O diretor-executivo reforçou que a FF mantém diálogo com a comunidade local sobre o caso. “A gente constatou uma erosão costeira e adotou as medidas compatíveis para mitigar esse risco, e tudo está sendo feito junto com os moradores”.

Necessidade de monitoramento

Barra do Una, em Peruíbe (SP) (Foto: Plínio Melo/Reprodução)

Segundo o professor e pesquisador do IMar/Unifesp, Ronaldo Christofoletti, as ressacas podem se tornar mais frequentes em certas épocas do ano.

“Quando você tem uma ação humana, áreas muito urbanizadas, intervenções mais acima do rio que fazem com que a água doce chegue menos, isso pode piorar o processo [erosivo] em momentos como agora, que a gente acabou de sair de uma ressaca muito forte”, explicou Christofoletti.

O pesquisador acrescentou que não considera “estranha” a formação do barranco na Barra do Una, mas ressaltou a necessidade de monitoramento no local. “Para saber se é um caso como de Atafona (RJ) ou do litoral sul de SP, onde se tem a certeza que o aumento do nível do mar já é um problema”, disse.

Para Christofoletti, o ideal é proteger a vegetação nativa da melhor maneira possível. “Não necessariamente pedras vão resolver e, muitas vezes, nem os sacos de areia”, explicou ele, que afirmou que tais medidas são paliativas.

Por fim, o pesquisador destacou a necessidade de entender que a mudança climática está presente, assim como as consequências do aumento do nível do mar, como erosões e ressacas mais frequentes, além da redução da área costeira.

“Nada vai conseguir barrar, por isso digo que são paliativos”. Christofoletti ressaltou que essas medidas são tomadas enquanto se estudam outras soluções.

Moradores preocupados

Moradores do Barra do Una, em Peruíbe, estão preocupados com o avanço do mar (Foto: Márcio Ribeiro)

O avanço do nível do mar e a alteração no curso do rio preocuparam moradores e pescadores da comunidade da Barra do Una, em Peruíbe, no último mês.

A preocupação com a possibilidade de as casas serem engolidas pelo mar evoluiu para uma insegurança diária. “O mar está chegando em algumas casas”, afirmou a cozinheira Débora Pereira do Prado, de 39 anos, à época.

A profissional contou que percebe o avanço do mar em direção às casas a cada mês. “Ele vem avançando cada vez mais”. Ainda segundo ela, o mar está destruindo as restingas, que são vegetações típicas das regiões costeiras e protegem as praias da erosão — perda de areia.

Segundo Debora, as casas construídas na beira da praia e próximas ao rio, são as mais afetadas com a situação. “Teve algumas que a água, nas últimas marés, chegou no quintal”.

A situação começou há aproximadamente 10 anos, de acordo com Débora, mas piorou nos últimos três anos. “A nossa maior preocupação são com as casas dos moradores locais, [um receio] deles estarem perdendo as casas e não terem para onde ir”.

Foto: Google Earth/Reprodução
Foto: Google Earth/Reprodução

A cozinheira disse que a atividade de pesca também tem sido afetada com o avanço do mar. “Como o rio tem ficado bastante raso, tem alguns tipos de peixes que a gente não está conseguindo mais pegar”.

O pescador Pedro do Prado, de 70 anos, contou que a comunidade fica preocupada com o que pode acontecer, mas que não sabem o que teria causado essa situação. “O canal que era bem fundo, com profundidade de 5 metros, agora está de 1,5 metro se estiver com a maré cheia”.

Moradores do Barra do Una, em Peruíbe, estão preocupados com o avanço do mar (Foto: Márcio Ribeiro)

Fonte: G1

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