O arquipélago de Alcatrazes, unidade de conservação marinha que fica a 40 km da costa no Litoral Norte de São Paulo, tem sido o cenário para o encontro raro de tubarões ameaçados de extinção.
Em alto-mar, em São Sebastião (SP), pesquisadores e cientistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (Cebimar) e do Instituto Oceanográfico da USP conseguiram fazer registros de tubarões ao longo dos últimos dois anos.
Desde 2016, Alcatrazes ampliou a área de preservação em quase 30 vezes, saltando de 26 km² de área conservada para cerca de 700 km². Como parte do programa de preservação do refúgio, é proibida a pesca na área. Além disso, as visitas no arquipélago precisam ser autorizadas pelo ICMBio.
O registro de tubarões na região começou há cerca de dois anos, segundo o professor Fábio Motta, que é professor da Unifesp e coordenador do projeto Mar de Alcatrazes.
“Registramos sete espécies de tubarões, seis delas ameaçadas de extinção. Os nossos estudos têm mostrado que nos últimos anos a presença desses animais no arquipélago é muito mais presente”, conta.
Segundo os pesquisadores, foram registradas no arquipélago de Alcatrazes sete espécies de tubarões, são elas:
- Tubarão galhudo-malhado,
- Tubarão-mangona ou tubarão-touro,
- Tubarão Galhudo ou Tubarão-cinzento,
- Tubarão-seda,
- Cação-frango,
- Tubarão-martelo,
- Tubarão-martelo-liso.
Ainda segundo o professor, o aparecimento dos tubarões é um sinal do efeito positivo de como a preservação ambiental está se desenvolvendo no arquipélago.
“A presença de grandes predadores no ambiente marinho é um indicador de saúde dos oceanos. Então, a presença desses animais indica que o efeito da proteção, a expansão da área protegida e os esforços de fiscalização foram importantes para recuperação dessas populações de tubarões”, explica.
Para fazer os registros, os pesquisadores contam com uma tecnologia submersa. Uma estrutura chamada de BRUVs tem câmeras atrás de uma isca, colocada para atrair os animais que estiverem pela vizinhança do arquipélago.
Os pesquisadores traçam uma malha de monitoramento deixando os equipamentos em 36 seis pontos da área de refúgio de Alcatrazes. Depois de uma hora debaixo d’água, eles são puxados de volta e os registros feitos mostram a vida marinha.
Para a especialista Fernanda Rolim, que é pós-doutoranda do Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha da Unifesp, a frequência com que os tubarões estão sendo encontrados no arquipélago é motivo para celebração.
“A gente tinha um ou outro registro, uma ou outra pessoa que falava ‘ah, eu vi uma nadadeira’, mas nos equipamentos a gente não registrava, nas filmagens dos BRUVs a gente não registrava, mas agora isso tem sido frequente, tanto as avistagens do pessoal falando, relatando as nadadeiras pela superfície, quanto das filmagens dos BRUVs debaixo d’água”, afirma.
Para Kelen Luciana Leite, analista ambiental e chefe do Refúgio de Alcatrazes, o resultado dos trabalhos coletivos para preservação estão sendo positivos. A expectativa é que mais espécies ameaçadas possam encontrar no arquipélago um refúgio para a sobrevivência.
“O refúgio assume o papel de ser um lugar de reprodução e de alimentação de uma grande quantidade de espécies inclusive ameaçadas e endêmicas (nativas)”, disse.
Riquezas
O arquipélago de Alcatrazes abriga uns dos maiores ninhais do país de fragatas, atobás e gaivotões e protege diversas espécies com risco de extinção, como jararaca, perereca e a rã de Alcatrazes, em uma vegetação caracterizada por áreas de Mata Atlântica e campos rupestres.
Alcatrazes também é o principal local de abrigo, alimentação e descanso de tartarugas marinhas da costa de São Paulo. Em suas águas são encontradas cerca de 260 espécies de peixes, sendo considerada a região de fauna recifal mais conservada do Sudeste e Sul do Brasil.
Há intensa ocorrência de baleias e golfinhos, com destaque para a baleia de Bryde e o golfinho pintado do atlântico.
O arquipélago, também usado como zona militar até 2013 para treino de tiro de guerra, tinha o acesso restrito e a visitação era permitida apenas com a intenção de pesquisa. O uso do espaço e recursos, como pesca e extração, continuam proibidos. O local é considerado berçário de espécies, inclusive em extinção.
Fonte: G1