Os tubarões sempre foram considerados os seres mais poderosos dos mares. Mas, recentemente, muitas espécies têm sido ameaçadas pela pesca excessiva, levantando sérias preocupações sobre extinção e consequências associadas para os ecossistemas oceânicos.
Para minimizar a situação, foram introduzidas regulamentações de proteção pelos governos e organizações de pesca, visando reduzir a captura, proibir a remoção das barbatas do animal e limitar o comércio de espécies ameaçadas.
Apesar dos esforços, a mortalidade de tubarões induzida pela pesca segue crescendo, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores do Canadá e dos Estados Unidos e publicado na quinta-feira (11) na revista científica Science.
Eles examinaram as capturas de tubarões entre 2012 e 2019, período em que foram implementadas muitas novas regulamentações, e realizaram entrevistas com especialistas na pesca destes animais.
Ao todo, o conjunto de dados rastreou o destino de cerca de 1,1 bilhão de tubarões capturados em todo o mundo. E o que se descobriu foi que a mortalidade total por pesca aumentou de pelo menos 76 milhões para 80 milhões de tubarões entre 2012 e 2019, embora a legislação protetora para reduzir a remoção de barbatanas tenha aumentado mais de 10 vezes durante o mesmo período.
Mais de 30% (25 milhões de animais) desta captura foram de espécies atualmente ameaçadas de extinção. Considerando também os tubarões não devidamente identificados por espécie, a estimativa da mortalidade global aumentou para 101 milhões em 2019.
“A pesca insustentável de tubarões é um problema global de proporções surpreendentes que pode eventualmente levar à extinção de algumas das espécies mais antigas e reverenciadas do nosso planeta”, disse o autor sênior Darcy Bradley, membro adjunto do corpo docente da UC Santa Barbara e cientista da Nature Conservancy, dos Estados Unidos, em comunicado. “Descobrimos que, apesar da miríade de regulamentações destinadas a reduzir a sobrepesca de tubarões, o número total de tubarões mortos pela pesca todos os anos não está a diminuir. Na verdade, está aumentando ligeiramente.”
A alta se deu principalmente pela pesca costeira, responsável por 95% das mortes mundiais. Nestas pescarias, o número de óbitos subiu 4% entre 2012 e 2019, índice que contrastou com a pesca regulamentada em mar aberto, especialmente no Atlântico e no Pacífico ocidental, onde a mortalidade diminuiu cerca de 7%.
“Mostramos que uma legislação generalizada destinada a prevenir a remoção das barbatanas de tubarões teve sucesso na abordagem a esta prática desperdiçadora, mas não reduziu a mortalidade em geral”, comentou o autor principal Boris Worm, professor pesquisador do Departamento de Biologia da Universidade Dalhousie, do Canadá. “Muitos tubarões ainda estão morrendo; isso é especialmente preocupante para espécies ameaçadas, como os tubarões-martelo”.
A equipe também analisou a relação entre as capturas de tubarões e os regulamentos de pesca de tubarões por país e conclui que as proibições e a governança responsável eram as únicas medidas associadas à redução das mortes.
“A proibição total da pesca de tubarões, por meio de medidas de proteção, como santuários de tubarões, pode ser bem-sucedida, destacando uma oportunidade para priorizar estas e outras medidas de conservação baseadas na área”, explicou Bradley.
A análise observa que quase 70% das jurisdições marítimas em todo o mundo introduziram algumas medidas regulamentares para eliminar a remoção das barbatanas dos tubarões e a mortalidade por pesca associada, das quais poucas existiam há 20 anos.
“O mais surpreendente é que não se trata apenas de um ou dois países, mas de que, em todo o mundo, os governos e algumas empresas pesqueiras se comprometeram a eliminar a remoção das barbatanas, muitas vezes em resposta à pressão pública. O desafio agora é aproveitar este impulso e implementar medidas mais fortes para reduzir as capturas de tubarões em geral”, disse a coautora Laurenne Schiller, pós-doutoranda na Universidade Carleton, em Ottawa.
Fonte: Um Só Planeta