Turismo bucólico no Rio de Janeiro: praias da Ilha de Paquetá voltam a ser consideradas próprias para banho

A bucólica Ilha de Paquetá volta, aos poucos, a registrar águas mais limpas, apesar do histórico de poluição. Análises laboratoriais feitas pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) mostram que algumas praias estão próprias para banho. Embora dependam diretamente das marés, esses locais vêm apresentando situação mais favorável durante semanas consecutivas e podem refletir uma melhora na qualidade da água de toda a Baía de Guanabara.

O levantamento atesta que, em 2023, as praias de Imbuca, Moreninha e José Bonifácio foram aprovadas em todos os testes feitos pelo Inea. Ainda que tímida, a melhora é percebida por frequentadores, como o marceneiro Jorge Américo Borges, que chamou os amigos para aproveitar o dia de sol na Praia da Imbuca.

— Eu ainda tenho esperança. Paquetá já é um paraíso. Se a gente conseguisse reduzir em 30% a poluição da baía, isso aqui ficaria melhor ainda — disse Jorge, que, entre um mergulho e outro, fazia um churrasquinho com amigos na calçada.

Apesar de celebrar a boa notícia, a moradora Miriam Lúcia Policante demonstra insatisfação com o lixo nas praias.

— O mar está ótimo, a temperatura está boa, mas continuamos precisando de ajuda na limpeza das praias. Ainda tem muito lixo. Vejo a ilha muito largada pelos órgãos públicos em vários aspectos — criticou Miriam, que é nascida e criada no local, onde vive há 60 anos.

Banhistas na praia de Paquetá (Foto: Reprodução/Um Só Planeta)

Praia da Moreninha

Na histórica Praia da Moreninha, os registros têm agradado aos pesquisadores. O local vem apresentando testes positivos consistentes, permitindo que os banhistas pulem no mar do alto da famosa pedra.

As amigas Gilvane Nunes e Gracia Wanatu vieram de Belo Horizonte, em Minas, e aproveitaram para mergulhar no local celebrizado no romance “A moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo.

— Eu vim aqui há 18 anos, mas não tinha aproveitado a praia. A água está boa, bastante agradável. Ficamos com a praia praticamente só para nós — brincou Gilvane.

A congolesa Gracia Wanatu, que trabalha com turismo, também aprovou o passeio. — A ilha tem potencial turístico muito grande. Com mais investimentos, a água poderia ficar ainda mais limpa e atrair mais turistas.

As praias de Imbuca e José Bonifácio têm apresentado boa balneabilidade em 50% a 70% das análises semanais, segundo o Inea. Há cinco anos, elas já haviam registrado uma melhora significativa na qualidade da água, mas depois voltaram a piorar. Desde então, vivem um sobe e desce de resultados dependendo do movimento das marés.

Mesmo aprovada no teste, a Praia de José Bonifácio apresentava um aspecto nada convidativo na última quinta-feira, com uma coloração marrom. Ainda assim, a moradora Eugênia Praça garantiu o bronzeado pegando sol numa cadeira à beira-mar.

Moradora levou cadeira para tomar sol à beira-mar, na praia José Bonifácio, em Paquetá (Foto: Reprodução/Um Só Planeta)

— Moro aqui desde que nasci. Minha família é de pescadores e velejadores, nós estamos acostumados ao movimento das marés e das águas. Hoje a maré está muito vazia, não entrou a que vem de fora da barra. Quando entra, a água fica mais clara — disse.

A tranquila Praia da Ribeira encanta os turistas, mas não costuma ser o paraíso para quem quer mergulhar. O resultado das análises surpreendeu os pesquisadores no ano passado, mas vem decepcionando desde janeiro. Apesar da balneabilidade ruim em 2023, no ano passado 88% das amostras coletadas entre abril e novembro foram positivas. Desde 2010, ela não apresentava águas tão limpas. Os pesquisadores do Inea ainda têm esperança de que a praia volte a apresentar bons resultados.

Ao sabor das marés

Segundo Leonardo Fidalgo, gerente de Informações Hidrometeorológicas e de Qualidade das Águas do Inea, a situação ainda não está nem próxima do ideal, mas a melhora é perceptível. Em Paquetá, a água limpa, que vem do mar aberto, se encontra com a água mais poluída, vinda do interior da Baía e da Baixada Fluminense. Essa mistura torna a ilha um local muito vulnerável às mudanças das marés.

— A qualidade da água em Paquetá pode mudar várias vezes, até no mesmo dia. Apesar dos resultados positivos, a situação das praias ainda é muito instável, e os banhistas precisam ter cautela — disse o especialista.

Ainda de acordo com Leonardo, os projetos voluntários de limpeza das praias e algumas ações, determinadas pelas novas concessões das empresas de tratamento de esgoto, estão fazendo a diferença na qualidade da água ao redor da ilha.

Depois de aproveitar dois dias em Paquetá, Fabiano Aragão Sennas, de 33 anos, morador do Recreio, na Zona Oeste do Rio, catou e levou com ele o lixo que encontrou pelo caminho.

— A água está boa, mas a areia está muito suja. Já tirei duas sacolas de latinhas e plástico. Eu quero que meus filhos e netos tenham um bom lugar para visitar no futuro e que encontrem isso aqui preservado — justificou Fabiano.

Influência da Concessão

Paquetá é uma das áreas onde a concessão dos serviços de água e esgoto foi repassada, há pouco mais de um ano, da Cedae para a companhia privada Águas do Rio. A nova concessionária recebeu um prazo de 5 anos para melhorar a qualidade da água na Baía de Guanabara, já que controla os sistemas de esgoto de 124 bairros da cidade do Rio e de todos os municípios que cercam a baía, com exceção de Niterói e Guapimirim.

Antes do início da concessão, alguns sistemas não estavam funcionando e despejavam esgoto sem tratamento nas águas da baía.

A empresa promete a construção de uma tubulação subaquática que vai conectar o esgoto da ilha com a estação de tratamento de São Gonçalo. Está prevista ainda a instalação de um cinturão de galerias para evitar que qualquer tipo de esgoto chegue às praias.

— A água da baía não vai ficar totalmente limpa com essas medidas. São anos de trabalho e muitos fatores que precisam funcionar em conjunto, mas podemos sim reduzir os fatores poluentes — afirmou Silvan Andrade, diretor operacional da Águas do Rio.

A sazonalidade é um dos fatores essenciais para a análise das praias da Baía de Guanabara. No verão, quando as chuvas são fortes e frequentes, a quantidade de material arrastado para a baía é maior. Além disso, as temperaturas mais altas, combinadas com a matéria orgânica presente na água, favorecem a proliferação de bactérias. No entanto, este ano, apesar das tempestades e do calor, as praias de Paquetá vêm apresentando bons resultados.

Praia do Arpoador reprovada nas últimas análises

Na contramão de Paquetá, a Praia do Arpoador apareceu reprovada nos últimos cinco testes de balneabilidade do Inea. No final de janeiro, após um período de chuvas, o mar de águas verdes claras só enganava: estava impróprio para banho. À época, o oceanógrafo David Zee, professor adjunto da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), explicou que o tom esverdeado é sinal de que algo não está bem.

— A coloração esverdeada, mesmo que bonita e paradisíaca, aponta a presença de material orgânico nas águas. Uma água oceânica com menos probabilidade de estar contaminada é aquela mais próxima de uma coloração voltada para o roxo, um azul-marinho mais escuro.

Duas semanas depois, os banhistas estranharam a coloração turva da água. O fenômeno, típico de verão, foi causado pelo aumento na quantidade de algas, justamente pela alta temperatura da estação. De acordo com o biólogo Mário Moscatelli, as algas geralmente não oferecem risco aos banhistas.

—Trata-se de uma explosão demográfica de microalgas pardas ou vermelhas. Acontece normalmente no verão com temperaturas altas, forte incidência solar e os nutrientes que estão em grande quantidade na zona costeira. A água pode se tingir de várias cores dependendo do microorganismo que está em proliferação — disse Moscatelli.

Fonte: Um Só Planeta

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