Há algumas semanas, vídeos sobre a Duna do Pôr do Sol, um dos principais pontos turísticos de Jericoacoara (CE), chamaram a atenção do público. Nas imagens, o que antes já foi uma formação de 60 metros de altura agora aparece quase como uma pequena bancada de areia, quase rente à água. A situação acontece por um processo natural, em que o vento empurra a areia para oeste, na direção do mar. Mas o geólogo Alexandre Carvalho alerta que, devido à expansão do vilarejo e obras no entorno, a formação de novas dunas, que deveriam ocupar o espaço, está em risco.
Em pouco tempo, a Duna do Pôr do Sol vai se dissipar, e a cerca de 300 metros há uma outra que poderá substituí-la. A preocupação é o cenário que poderá existir em algumas décadas. O transporte de dunas acontece vagarosamente, a depender do tamanho e outros fatores, como a chuva.
— O que não é natural? Não ter reposição. A cidade cresceu e fica no meio da rota de passagem das dunas, entre a origem delas e a beira do mar. Barrou o processo. As estradas no entorno também prejudicam o fluxo — explica o geólogo, pesquisador do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará. — Uma forte ressaca pode acabar com o que restou da duna. Vai depender das próximas chuvas. O mais importante é criar mecanismo para remover os impedimentos ao transporte eólico.
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Em Jericoacoara, as dunas se movem para sudoeste. Carvalho estima que, em média, a Duna do Pôr do Sol se desloca 40 metros por ano. Ela nasceu na ponta da praia, perto da Pedra Furada, outro famoso ponto turístico da cidade, e levou mais de 100 anos até chegar no seu local atual.
Além do deslocamento natural, as intensas chuvas do mês passado fizeram com que a duna ficasse menor. Como a maré encheu, e várias lagoas do entorno transbordaram, formou-se um riacho às suas costas. O resultado foi a duna rodeada por um grande volume de água, o que facilitou a liquefação de mais areia. Outro ponto preocupante é a quantidade de pessoas que sobem na Duna do Pôr do Sol e acabam compactando a areia.
Há, ainda, um fator inusitado que contribui para a estagnação de dunas: os jumentos. Atualmente, há cerca de 800 no Parque Nacional de Jericoacoara. As fezes dos bichos na areia servem de adubo, onde nascem pequenas gramas. E qualquer tipo de vegetação fixa a duna, interrompendo o fluxo da areia.
Carvalho estuda uma proposta para ajudar no déficit de areia de Jericoacoara. O geólogo acredita que o desmatamento controlado de parte da vegetação poderia ajudar a abrir corredores eólicos.
— Na Holanda fazem isso. A proposta seria reservar alguns corredores, de cerca de 150 metros de largura, à leste da praia, para que o vento transporte a areia. Depois, poderíamos replantar de novo. Mas o importante é garantir fluxo eólico constante. Além de limitar o trânsito de veículos — explica o geólogo, que acrescenta que a remoção do vilarejo é inviável.

Fonte: Extra