Estudo que uniu pesquisadores norte-americanos e chineses descobriu uma ligação preocupante entre o aquecimento global, disponibilidade de peixes no mar e ataques de piratas. Segundo a pesquisa, conforme diminuem as populações de peixes em certa região do oceano em decorrência do aumento da temperatura das águas, crescem os ataques de piratas para tomar para si os produtos da pesca.
O artigo foi publicado na revista científica “Tempo, clima e sociedade”, da Sociedade Meteorológica Americana, por pesquisadores da Universidade de Maryland e da Universidade de Macau, na China. Os cientistas estudaram dois focos de pirataria nas últimas duas décadas: o leste da costa da África e o mar do sul da China.
Foram analisados mais de 2 mil ataques nessas duas regiões nos últimos 20 anos. E observou-se que no leste da África, onde as populações de peixes estão diminuindo devido aos mares mais quentes, a ocorrência de pirataria aumentou. Mas, no mar do sul da China, o aumento da temperatura do mar teve efeito oposto, fazendo aumentar as populações de peixes, o que levou a uma diminuição dos ataques de piratas.
Ou seja, os pesquisadores conseguiram provar que o interesse dos piratas em roubar cargas de peixes está ligado à maior escassez dos animais, que torna sua captura mais custosa para pescadores e torna as cargas mais valiosas.
“Em um cronograma de aproximadamente 20 anos, estamos captando diferenças estatisticamente significativas e mensuráveis”, disse ao The Guardian Gary LaFree, professor de criminologia e justiça criminal da Universidade de Maryland. “Fiquei surpreso com a rapidez com que essas mudanças estão ocorrendo, especialmente quando você pensa na provável aceleração das mudanças climáticas no futuro”, comentou.
“Se nossos argumentos estiverem corretos e as temperaturas do mar continuarem a subir no futuro próximo, a luta contra a pirataria no leste da África se tornará cada vez mais difícil”, dizem os pesquisadores no artigo.
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Pescadores desprotegidos
O estudo traz conclusões preocupantes advindas do aquecimento global, incluindo a crescente exposição da comunidade de pescadores aos ataques de piratas. Pesquisas anteriores citadas na mesma publicação mostram que os pescadores, que formam algumas das comunidades mais pobres do mundo, são alvo constante de sindicatos criminosos envolvidos com a pirataria.
Com as difíceis condições de subsistência e o risco de sofrer ataques violentos, muitos pescadores acabam cedendo a pressões e entrando em esquemas criminosos, segundo LaFree. “Há evidências de que alguns pescadores entram nessa rede, dependendo de como está indo a pesca”, afirma.
Bo Jiang, professor assistente na faculdade de ciências sociais da Universidade de Macau e principal autor do estudo, disse ter visto com os próprios olhos como essas redes de pirataria funcionam. “Cresci em Singapura, e há muitos pescadores nas águas próximas que são conhecidos como ‘piratas de prontidão’”, cita.
“Para os governos da Somália e do Quênia e outros países costeiros no leste da África, esta é uma questão premente que precisa ser abordada”, completa Jiang.
A pirataria custa ao comércio marítimo cerca de US$ 9 bilhões por ano, segundo estimativa da Associação Nacional de Armadores da Índia, que entregou um estudo à ONU pedindo mais medidas protetivas contra essa atividade. Cerca de 90% das mercadorias comercializadas no mundo são transportadas por via marítima.
Fonte: Um Só Planeta