Projeto inovador quer transformar baleias em fonte de créditos de carbono

Baleias absorvem e armazenam grande quantidade de carbono em seus corpos — e carbono armazenado é ótimo para reduzirmos a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera e combater as mudanças climáticas. Esses gigantes marítimos podem viver mais de 100 anos, e mesmo quando morrem, suas carcaças descem para as partes mais profundas do oceano e ficam no fundo do mar, depositando lá o carbono que armazenaram durante a vida. Partindo dessa informação, um grupo de pesquisadores, empresários e economistas está apostando que colocar um preço nos serviços prestados pelas baleias ajudará tanto a compensar as emissões globais quanto a proteger este animais.

Como forma de defender as baleias, é uma ideia original. Do ponto de vista da crise climática, o projeto parece ter valor simbólico. Mesmo uma baleia acima da média prenderia em seu corpo menos de 40 toneladas de carbono (uma baleia azul grande pesa cerca de 150 toneladas e carbono compõe até 25% do corpo de um animal). Operações industriais de sequestro de carbono podem capturar mais de 3 mil toneladas por dia (essa seria a capacidade média de uma leva de 200 novos projetos levantados em 2022 pela Agência Internacional de Energia).

Desde 2018, a canadense Whale Seeker vem treinando algoritmos de inteligência artificial para detectar baleias em imagens de satélite e em imagens aéreas e oferecendo esse serviço para pesquisadores, agências governamentais, ONGs, grupos indígenas e empresas de navegação e mineração que monitoram seus impactos ambientais. Recentemente, Charry Tissier, que é co-fundadora da Whale Seeker, passou a se questionar como esses dados poderiam ser usados ​​para desenvolver um novo programa de créditos de carbonos que incentivaria financeiramente as empresas a proteger as baleias enquanto evitam novas emissões de gases de efeito estufa.

Projeto inovador quer transformar baleias em fonte de créditos de carbono (Foto: Unsplash/Divulgação)

Charry conversou com economistas da Blue Green Future, que, em um relatório de 2019, avaliou em US$ 2 milhões o valor médio de uma baleia do grupo que engloba as 13 maiores espécies do animal. A cifra levou em consideração números da contribuição das baleias para o armazenamento de carbono, para o aprimoramento da pesca – por meio dos nutrientes em suas fezes -, e para a indústria do turismo de observação de baleias. Na ocasião, a quantidade de carbono que uma baleia pode sequestrar em seu corpo foi estimada usando dados sobre biomassa e sobre como as fezes de baleia aumentam os números de fitoplâncton, base da cadeia alimentar nos oceanos.

Desta parceria nasceu o projeto Whale Carbon Plus, que pretende fazer com que investidores comprem dos governos os direitos de sequestro de carbono e outros serviços naturais prestados pelas baleias, como se fosse um título, e recebam juros na forma de créditos de carbono. Os investidores poderiam então usar os créditos para compensar sua própria pegada de carbono ou vendê-los a outros para fazer o mesmo.

Para além dessas transações financeiras, com o projeto, se um navio atingir uma baleia, por exemplo, o governo poderia multar o proprietário em um valor monetário compatível com a perda. O idealizadores sugerem ainda que as seguradoras poderiam até cobrir essas multas, mas deveriam exigir que os navios carregassem equipamentos de detecção de baleias, o que protegeria ainda mais os animais. Os métodos do Whale Seeker também poderiam ajudar a monitorar se as indústrias estão aderindo aos regulamentos e a auditar os sistemas de crédito de carbono para averiguar sua eficácia.

Fonte: Um Só Planeta

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