As temperaturas da superfície do mar no sudoeste do Pacífico aumentaram três vezes mais rápido que a média global desde 1980, conclui o relatório State of the Climate in the South-West Pacific 2023 (Estado do Clima no Sudoeste do Pacífico 2023), elaborado pela Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês) e divulgado nesta terça-feira (27). O documento também aponta que as ondas de calor marinhas na região praticamente dobraram de frequência no mesmo período, e se tornaram mais intensas e duradouras.
Diante disso, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas (ONU), alertou que as nações insulares do Pacífico estão em “grave perigo” e o mundo deve “responder ao SOS” antes que seja tarde demais.
“Os níveis médios globais do mar estão subindo a uma taxa sem precedentes. O oceano está transbordando. E a razão é clara: gases de efeito estufa – gerados predominantemente pela queima de combustíveis fósseis – estão cozinhando nosso planeta. E o mar está absorvendo o calor – literalmente”, enfatizou, durante participação no Fórum das Ilhas do Pacífico, em Tonga.
Pelos dados do novo levantamento da WMO, foram relatados 34 eventos de risco hidrometeorológico em 2023 na região – a maioria deles relacionados a tempestades ou inundações. Esses eventos causaram mais de 200 mortes e impactaram mais de 25 milhões de pessoas.
Outro trabalho publicado paralelamente pela ONU, intitulado Surging Seas in a Warming World (Mares agitados em um mundo em aquecimento), destaca que a crise climática e a elevação do nível do mar “não são mais ameaças distantes”, especialmente para os pequenos estados insulares em desenvolvimento do Pacífico.
Aumento do nível do mar
Em grande parte do Pacífico tropical ocidental, o nível do mar subiu aproximadamente 10-15 cm, próximo ou quase o dobro da taxa global medida desde 1993. No Pacífico tropical central, o nível do mar subiu aproximadamente 5-10 cm.
Em termos anuais, a taxa média de elevação do nível do mar entre janeiro de 1993 e maio de 2023 é de cerca de 4,52 mm por ano no oceano ao redor e a leste do Continente Marítimo e de cerca de 4,13 mm por ano no oceano ao redor da Nova Zelândia. Isso se compara à média global de elevação do nível do mar de cerca de 3,4 mm por ano durante esse período.
“O nível médio global do mar continuará a subir ao longo do século XXI em resposta ao aquecimento contínuo do sistema climático, e esse aumento continuará por séculos ou milênios devido à contínua absorção de calor pelas profundezas do oceano e à perda de massa das camadas de gelo”, indica o relatório da WMO.
Guterres, conforme relatado pelo The Guardian, observou que o aumento do nível do mar tem “poder inigualável para causar estragos em cidades costeiras e devastar economias costeiras”. Segundo ele, as ilhas do Pacífico estão “excepcionalmente expostas” porque 90% das pessoas vivem a 5 km da costa e cerca de 50% da infraestrutura está localizada a 500 metros do mar.
Ele acrescentou que, se o mundo esquentar 3°C acima dos níveis pré-industriais, que é aproximadamente o que é esperado pelas políticas atuais, as ilhas do Pacífico “podem esperar pelo menos 15 cm de aumento adicional do nível do mar até meados do século, e mais de 30 dias por ano de inundações costeiras em alguns lugares”.
“Estou em Tonga para emitir um SOS global – Salvem Nossos Mares – sobre o aumento do nível do mar. Esta é uma situação louca. A elevação dos mares é uma crise inteiramente criada pela humanidade, uma crise que logo aumentará para uma escala quase inimaginável, sem um bote salva-vidas para nos levar de volta à segurança. Mas se salvarmos o Pacífico, também nos salvaremos”, argumentou.
Temperatura e ondas de calor
Em relação à temperatura da superfície do mar, entre 1981 e 2023, quase toda a região do Pacífico Sudoeste mostra aquecimento, atingindo taxas de mais de 0,4°C por década a nordeste da Nova Zelândia e ao sul da Austrália. Globalmente, essa taxa é de cerca de 0,15°C por década.
Sobre as ondas de calor marinhas, da década de 1980 a 2000, a duração média em grande parte da região do Pacífico estava dentro da faixa de cinco a 16 dias. No entanto, isso aumentou significativamente desde 2010, com a maior parte do Pacífico sofrendo ondas de calor de oito a 20 dias – ou até mais.
A mais proeminente e persistente em 2023 ocorreu em uma grande área ao redor da Nova Zelândia. Ela foi categorizada como extrema e durou aproximadamente seis meses, segundo a WMO.
A intensidade crescente das ondas de calor marinhas tem implicações de longo alcance, desde impactos adversos nos estoques de peixes e na resiliência dos recifes de corais, até florações de algas tóxicas e distinção de espécies para os extremos mais severos e persistentes.
Diminuição das emissões globais
Guterres salientou que, apesar de alguma elevação do nível do mar ser inevitável, sua escala, ritmo e impacto não são. “Isso depende de nossas decisões”, apontou, reiterando que os combustíveis fósseis devem ser eliminados e todos os países do G20 devem buscar uma “redução drástica das emissões”.
“Sem uma eliminação gradual dos combustíveis fósseis de forma justa e imparcial, não há como manter os 1,5º vivos”, complementou, em uma referência à meta do acordo climático de Paris. Ele também apelou para mais financiamento climático e apoio aos países vulneráveis: “Precisamos de um aumento nos fundos para lidar com a agitação dos mares”.
Fonte: Um Só Planeta