O mar pode congelar? Entenda fenômeno que ‘parou ondas’ no sul da Argentina; vídeo viralizou

Na última terça-feira (25), um vídeo que mostra uma praia com o “mar congelado” viralizou nas redes sociais. O episódio aconteceu na região de San Sebastián, na Patagônia Argentina, que pertence ao arquipélago conhecido como Terra do Fogo.

Veja o vídeo.

Embora as imagens pareçam impressionantes, o fenômeno do gelo marinho é comum em regiões de alta latitude, onde estão localizados o Ártico e a Antártica. Além de ser essencial para a manutenção da biodiversidade dos oceanos.

O professor Francisco Aquino, climatologista e pesquisador do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), explicou as condições necessárias para que ele ocorra:

  • Estar em região costeira, rasa e isolada;
  • Ter temperaturas abaixo de 0°C (entre -2°C e -3°C);
  • Temperatura ambiente também deve ser baixa, e sem vento;
  • E águas devem ser calmas, ou seja, sem ondas.

Naturalmente, o sal presente na água do mar impede o arranjo da estrutura cristalina que forma o gelo. Mas, quando todas as condições meteorológicas são favoráveis, ocorre a expulsão gradual do sal, possibilitando a formação congelada.

“Isso significa que, se nesta região o mar congelasse durante o inverno, não derretesse no verão e no próximo inverno ele expandisse a sua espessura, cada vez mais você teria gelo marinho de água doce. Trata-se de uma água que pode ser consumida, inclusive”, explica o pesquisador.

Mas, então, não são ondas congeladas?

Não. Na verdade, o que vemos congelado é a ondulação do mar, que acontece naturalmente em áreas costeiras do oceano.

“Quando vídeos assim viralizam, o comentário que as pessoas fazem das imagens é de que as ondas congelaram. É importante destacar isso: se tivesse onda rompendo naquela praia, o mar não congelaria, a dinâmica interromperia o processo lento e sutil necessário para o congelamento”, explica Francisco Aquino.

Segundo o especialista, a espessura da camada de gelo na região onde o vídeo foi gravado tem, em média, de 15 a 20 centímetros. Como é extremamente delicada, ela dura no máximo alguns dias ou semanas.

Nas regiões mais próximas aos polos, no entanto, esta camada de gelo marinho é mais espessa e pode durar anos. O que significa que pesquisadores e animais caminham sobre o mar, literalmente, para chegar ao oceano aberto ou ao centro dos continentes.

O fenômeno na Argentina tem relação com as mudanças climáticas?

O gelo marinho é um acontecimento natural que pode acontecer em períodos de inverno severo. No caso que viralizou na Argentina, ele se deu em decorrência de uma massa de ar mais fria que se descolou do Mar de Weddell em direção à Patagônia.

“O que podemos dizer, no entanto, é que as mudanças climáticas, somadas ao El Niño, foram responsáveis por mudar o padrão de circulação atmosférica e tornar ele mais intenso nos últimos meses. Por isso, vimos mais nevascas em um curto espaço do tempo”, afirmou Francisco Aquino.

Algumas partes congeladas no Mar de Weddell, que influenciou a formação em San Sebastián, foram maiores em maio de 2024 em relação aos anos anteriores. Na imagem abaixo, a parte branca representa o gelo marinho formado ao redor da Antártica durante o mês e a linha vermelha representa a média esperada pelos cientistas.

Camada de gelo marinho foi maior em maio de 2024 do que a esperada pelos cientistas (Foto: National Snow and Ice Data Center)

🐧 O gelo marinho atrapalha a vida dos animais?

Segundo o professor da UFRGS, o fenômeno não causa nenhum problema aos animais.

“Aliás, ele é até necessário. A formação de gelo marinho cria condições, tanto no Ártico, mas especificamente na Antártica, de água um pouco mais fria, um pouco mais salgada, e que vai estar rica em oxigênio”, diz.

“Essa água mais rica vai afundar, alimentando a cadeia da biodiversidade marinha de todos os oceanos do planeta Terra”.

Temperaturas extremas congelam ondas do mar na Terra do Fogo (Foto: Reprodução/ X)

Fonte: G1

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