Novo modelo científico mostra que a subida do nível do mar acontecerá de forma mais rápida que o previsto

Um novo modelo sobre o fluxo de derretimento de glaciares da Antártica pode tornar mais urgentes e preocupantes as previsões sobre aumento do nível do mar. Isso porque, apontam cientistas da Universidade da Califórnia, em San Diego, verificou-se que a água derretida que flui para o mar por baixo das geleiras antárticas está fazendo com que elas percam gelo mais rapidamente, acelerando a subida dos oceanos.

As simulações sugerem que este efeito é suficientemente grande para contribuir significativamente para a subida global do nível do mar em cenários de elevadas emissões de gases do efeito estufa. Hoje, esse processo não é considerado nos modelos preditivos de aumento do nível do mar, como os do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Ou seja: é provável que as atuais projeções subestimem o ritmo da subida global do nível do mar nas próximas décadas – ainda que as atuais previsões já sejam preocupantes. “Saber quando e quanto o nível global do mar subirá é fundamental para o bem-estar das comunidades costeiras”, disse Tyler Pelle, principal autor do estudo. “Milhões de pessoas vivem nessas regiões, que dependem de nossas projeções precisas.”

O estudo, publicado na Science Advances, modelou a liberação de água por dois glaciares na Antártida Oriental sob diferentes cenários de emissões de GEE, e projetou as suas contribuições para a subida do nível do mar. Diferentemente dos modelos anteriores para calcular o recuo dos blocos de gelo, este incluiu a influência do fluxo de água derretida desde debaixo dos glaciares até ao mar, fenômeno conhecido como descarga subglacial.

Pesquisas anteriores sugeriram que essa descarga subglacial é uma característica comum das geleiras em todo o mundo. Acredita-se que ela acelera o derretimento da plataforma de gelo, causando uma mistura oceânica que traz calor adicional para as camadas abaixo da plataforma de gelo flutuante de uma geleira. No entanto, a maior parte da comunidade científica não considera que o efeito do processo era suficientemente grande para aumentar acelerar do nível do mar

As duas geleiras em que o estudo se concentrou, chamadas Denman e Scott, juntas contêm gelo suficiente para causar quase 1,5 metro de aumento do nível do mar. Num cenário de emissões de GEE elevadas, o modelo concluiu que a descarga subglacial aumentou a contribuição destes glaciares para o aumento do nível do mar em 15,7%, de 19 para 22 milímetros até o ano 2300.

Essas geleiras ficam no topo de uma fossa continental com mais de três quilômetros de profundidade; assim que o degelo atingir a encosta íngreme dessa fossa, espera-se que a sua contribuição para a subida do nível do mar acelere decisivamente. Com a influência adicional da descarga subglacial agora considerada, os glaciares chegariam a esse ponto crítico cerca de 25 anos antes do que atualmente previsto, por volta do ano 2240.

“Acho que este artigo é um alerta para a comunidade de modelos de degelo. Isso mostra que não é possível modelar com precisão esses sistemas sem levar a descarga subglacial em consideração”, disse o coautor Jamin Greenbaum.

Estudo considerou o fator chamado descarga subglacial, derretimento do gelo que acontece sob os glaciares, e que atualmente não é contemplado nas previsões oficiais

Reduzir emissões é chave para controlar o processo

Futuras iterações do modelo também podem tentar relacionar o ambiente subglacial com o manto de gelo e os modelos oceânicos, para que a quantidade de água liberada pelo degelo subglacial responda dinamicamente a esses outros fatores – o que provavelmente ocorre na realidade. Greenbaum disse que a versão atual do seu modelo manteve a quantidade de água de degelo subglacial constante ao longo de toda a simulação, e que fazê-lo responder dinamicamente ao ambiente circundante provavelmente tornaria o modelo mais fiel.

“Isto também significa que os nossos resultados são provavelmente uma estimativa conservadora do efeito da descarga subglacial”, disse Greenbaum. “Dito isto, ainda não podemos dizer quanto o aumento do nível do mar será acelerado por este processo – esperamos que não seja muito.”

No entanto, para além do que acontece sob os glaciares, o ponto crucial do estudo, dizem os autores, é que esse processo é acelerado pelas emissões humanas de GEE. Os cenários do modelo considerando baixas emissões no futuro mostraram que os glaciares não atingiram a encosta da fossa que iniciaria o ponto crítico de derretimento, e assim a subida do nível do mar teria muito mais chances de ser controlada.

“Se há uma história apocalíptica aqui, não é uma descarga subglacial”, disse Greenbaum. “A verdadeira história do juízo final ainda são as emissões, e a humanidade ainda é quem pode controlar esse processo.”

Fonte: Um Só Planeta

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