O município de Fortim, no litoral do Ceará, pode perder 318 metros de faixa de praia até 2030, conforme estudo da Universidade Federal do Ceará. Até 2040, o número sobe para 436 metros. A previsão é parte do estudo preditivo realizado sobre a linha de costa do estado, desenvolvido no Departamento de Geologia da instituição.
Fortim fica localizado a 135 km de Fortaleza, com cerca de 16 mil habitantes. O município tem praias paradisíacas que fazem parte do roteiro de pontos turísticos do litoral cearense; são elas a Praia do Pontal de Maceió e a Praia do Canto da Barra.
O impacto da erosão no litoral de Fortim pode ser sentido em diferentes setores, como o turismo, a economia e a prática de esportes náuticos.
Davi Rodrigues, instrutor de kitesurf na cidade, comentou sobre a erosão na Praia do Canto da Barra. “De extensão de praia mesmo dava mais de 100 metros, mais de 100 metros de faixa de areia aqui, e a gente não vê mais isso, acho que tem 30, 40 metros aqui”, lamentou o instrutor.
Além de Fortim, outros dez municípios também devem sofrer com o problema de erosão no litoral do estado; são eles:
Icapuí
Cascavel
Caucaia
Paracuru
Paraipaba
Trairi
Amontada
Itarema
Acaraú
Camocim.
O estudo da UFC aponta que quase metade (49,16%) do litoral cearense deve sofrer com o avanço do mar.
A professora Narelle Maia de Almeida, do Departamento de Geologia da UFC, comentou sobre o impacto. “40% da nossa população cearense reside em municípios costeiros. A gente também tem que o PIB cearense, que cerca de 50% provém desses municípios costeiros”, disse.
“Então, essa análise com relação, por exemplo, a residências, o patrimônio edificado, construído, isso precisa ser feito em estudos de escala mais de detalhe e nos hotspots erosivos realmente, onde o estudo aponta para que nós possamos avaliar esse risco de forma local”, explicou.
A secretária de meio ambiente de Fortim, Idelnizi Souza dos Santos, disse que não se pronunciaria sobre o problema devido às restrições do período eleitoral. No entanto, segundo a lei, não há nada que impeça políticos em cargos públicos de participarem de entrevistas.
Praia do Icaraí
A praia do Icaraí, em Caucaia (município também citado pelo estudo da UFC), teve a maior erosão na faixa litorânea da Região Metropolitana. A praia perdeu 109 metros da faixa de areia entre os anos de 1984 e 2020. O avanço do mar no Icaraí teve início na década de 40, com a construção do Porto do Mucuripe, em Fortaleza.
Ao longo dos anos, foram feitas várias tentativas para conter o mar. Desde 2021, um projeto começou a ser executado para a construção de três espigões com o objetivo de que a faixa de areia voltasse. Moradores e comerciantes da região contam que a faixa de areia, hoje em frente à Avenida Litorânea, não existia há cerca de dois anos.
“Nós presenciamos aqui um público que eu acredito que nos últimos 15 anos nós não presenciamos. Então isso é a retomada da credibilidade dessa faixa de praia”, disse André Luiz Vasconcelos, secretário municipal de infraestrutura de Caucaia.
A estratégia também foi comemorada por Natália Souza, presidente da Associação dos Barraqueiros do Icaraí. “A população está voltando, o turismo está chegando novamente, hoje a gente tem a faixa de areia, a gente tem acesso à praia, que a gente não tinha mais”, destacou.
Estudo da UFC
Para 2040, o estudo ressalta a tendência de avanço do mar na Costa Oeste do Ceará, desde o chamado setor de Fortaleza, que inclui a capital e os municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante, aos setores da Costa Oeste, com Trairi e Itapipoca, e Extremo Oeste, alcançando Amontada, Itarema, Acaraú, Cruz e Camocim.
O trabalho também avaliou as perdas na costa cearense desde 1984. A praia do Icaraí, em Caucaia, é um dos maiores exemplos de erosão causada pelo homem.
O estudo realizado faz parte do trabalho de conclusão de curso de Joca Leite, formado em Geologia pela UFC em 2020, sob orientação da professora Narelle de Almeida. Os resultados foram publicados no artigo intitulado Análise espaço-temporal e modelagem preditiva da linha de costa do estado do Ceará” publicado na Revista Geociências, da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Fonte: G1