Pesquisadores anunciaram que um fóssil de pterossauro interceptado pela Polícia Federal em Santos, no litoral de São Paulo, em 2013, é o réptil voador brasileiro mais bem preservado já encontrado. Os tapejarídeos, como o apreendido pela PF, viveram há cerca de 100 milhões de anos.
Os estudos sobre o dinossauro tapejarídeo encontrado, da espécie Tupandactylus navigans, sugerem que ele era voador, não tinha dentes e apresentava uma grande crista na cabeça, que representava quase metade da altura dele.
O fóssil analisado foi interceptado pela Polícia Federal no Porto de Santos em 2013, junto com outras 3 mil peças. Ele foi encontrado em seis quadrados de lajes de calcário, e seria contrabandeado para colecionadores privados, provavelmente para países da Europa ou aos Estados Unidos.
O artigo científico com a análise do fóssil foi publicado na semana passada na revista Plos One. Victor Beccari, paleontólogo da Universidade de São Paulo (USP), é identificado como o primeiro autor do estudo, que conta, ainda, com a colaboração dos pesquisadores Felipe Lima Pinheiro, Ivan Nunes, Luiz Eduardo Anelli, Octávio Mateus, Fabiana Rodrigues Costa.
Em entrevista, Beccari comemorou a publicação do artigo, que só foi possível pela interceptação do material pela polícia. O fóssil foi retirado da região da Formação Crato, no Estado do Ceará, e foi datado de cerca de 115 milhões de anos. Nele, foram encontradas até partes com tecidos moles, algo extremamente raro.
“Foi uma sensação muito boa concluir o trabalho, porque teríamos perdido esse fóssil para um colecionador particular. A ciência ia perder esse material”, celebrou Beccari.
Victor conta que começou a trabalhar com esse fóssil em 2016. O grupo de pesquisadores designado para trabalhar com o dinossauro ficou responsável por descrever o fóssil e comparar ele com outros espécimes encontrados no Brasil. “Vimos que tinha alguma peculiaridades na anatomia dele”, comenta.
Segundo o estudo, o tapejarídeo não era um bom voador para longas distâncias, sendo mais acostumado a procurar comida no solo. Além disso, a grande crista dele – que, no caso do fóssil estudado, chegava a 40 centímetros – tinha a função de chamar a atenção de outros seres da mesma espécie para acasalamento. “Mais ou menos como a cauda do pavão”, exemplifica.
Conforme o artigo publicado, o espécime brasileiro tinha 2,5 metros de envergadura, sendo 1 metro de comprimento da cabeça até a cauda e apenas 1 metro de altura, sendo que 40 centímetros eram compostos pela crista.
Beccari explica que ainda não foi possível determinar se o dinossauro encontrado era macho ou fêmea, mas que um objetivo é descobrir isso na nova fase dos estudos. Segundo ele, há outra espécie catalogada, Tupandactylus imperator, que é semelhante à estudada pelo grupo, mas tem uma crista menor.
A principal hipótese é que o tamanho da crista seja o que caracteriza o sexo do animal. “Talvez com novos fósseis a gente consiga solucionar essa questão”, finaliza. O material do tapejarídeo está exposto no Museu de Geociência da Universidade de São Paulo, na Capital.
Fonte: G1