Os guarás-vermelhos (Eudocimus ruber) voltaram a colorir os céus de Peruíbe, no litoral de São Paulo, e têm chamado atenção de moradores e turistas. O retorno da ave, que não era vista há anos na cidade, só foi possível através da criatividade de especialistas. Eles colocaram bonecos idênticos a espécie e, com isso, conseguiram atrair um bando de mais de 400 indivíduos.
O ornitólogo [especialista em aves] Bruno Lima é guia e pesquisador na cidade há 20 anos. Ele explicou que a técnica consiste em usar os bonecos para atrair o próprio instinto das aves que vivem em bandos, como é o caso do guará-vermelho.
Ao redor do mundo, segundo o especialista, o método costuma ser usado por caçadores. Eles atraem e matam os animais. Bruno junto com a bióloga Karina Ávila, de 31, e o monitor ambiental Márcio Ribeiro, de 40, decidiram usar a técnica de maneira positiva e o resultado não poderia ser melhor.
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O ornitólogo explicou que os guarás-vermelhos saem de Cubatão (SP) e vão em direção ao litoral sul do Brasil. Os especialistas estudaram o caminho e as épocas do ano em que eles passavam para colocarem os bonecos no Rio Preto. Bruno ressaltou que a área é protegida por lei e pela comunidade.
De acordo com Bruno, as aves sentiram-se seguras ao verem os bonecos parecidos com elas. Por este motivo, a espécie retornou para cidade. “A ideia era fazer algo para trazer a espécie de volta, mas que a população também ganhasse com isso. A missão está cumprida”, afirmou ele.
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Bonecos
A artista Sandra Vargas José de Souza, de 59 anos, explicou que faz uma escultura do corpo das aves em isopor. Em seguida, usa papel alumínio e palitos de bambu com massa de biscuit para dar volume. A finalização é feita com tinta para dar cor e verniz para que o boneco resista ao clima.
De acordo com ela, o maior desafio é mantê-los em pé. “Os pássaros têm pouco apoio e o material precisa ser o mais leve possível”, explicou. O resultado pode ser visto em imagens feitas por ela (veja acima).
Onde estavam os guarás-vermelhos?
Desde 1500, de acordo com Bruno, a espécie era recorrente em todos os manguezais do Brasil. A caça, o desmatamento e o aterramento para construção fizeram com que muitas áreas ficassem perigosas para as aves. A técnica usada pelo ornitólogo, portanto, não afetará a natureza dos guarás-vermelhos.
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“A gente só deu um empurrãozinho para eles [guarás-vermelhos] colonizarem um território que já era deles”, afirmou o especialista.
A bióloga Karina acrescentou à equipe de reportagem a importância deste projeto para a espécie. “Mostramos que a natureza se recupera se dermos uma chance”, disse ela.
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Fonte: G1