Comportamento reprodutivo é flagrado pela 1ª vez entre jubartes e baleia-franca acompanhada de filhote

Apesar de frequentarem o litoral brasileiro a procura das águas quentes para a reprodução, as baleias-jubartes (Megaptera novaeangliae) e as baleias-franca (Eubalaena australis) são diferentes até na família.

A jubarte, representante da família Balaenopteridae, atinge os 16 metros de comprimento, pesa até 35 toneladas e migra para as águas do Banco dos Abrolhos, na Bahia, na hora de reproduzir. A espécie já esteve ameaçada de extinção, mas saiu da lista vermelha em 2014. Hoje estima-se que cerca de 34.000 frequentem o litoral brasileiro.

Filhote de jubarte também foi flagrado em Abrolhos (BA) (Foto: Milton Marcondes/Projeto Baleia Jubarte)

Já a baleia-franca, da família Balaenidae, que ainda está ameaçada de extinção, chega a 17 metros de comprimento pesando 60 toneladas. As francas eram encontradas do Rio Grande do Sul até a Bahia, mas com a caça intensa nos séculos XIX E XX a população foi reduzida. Atualmente são mais frequentes no litoral sul, na região que vai de Santa Catarina até o estado gaúcho.

Todo ano elas compartilham o Oceano Atlântico Sul, geralmente, cada uma no seu trajeto. É por isso que pesquisadores e turistas ficaram impressionados com a cena raríssima que flagraram durante um passeio de barco em Abrolhos (BA) no início do mês: duas baleias-jubartes machos em comportamento reprodutivo com uma baleia-franca fêmea, que estava com seu filhote de poucos meses.

Dois pesquisadores do Instituto Baleia Jubarte que estavam presentes, Milton Marcondes e Bianca Righi, flagaram a cena com o celular e também com o drone.

“Essas interações são bem raras entre essas espécies diferentes, em 25 anos trabalhando aqui foi a segunda vez que vi ao vivo e a primeira vez que temos registro desse comportamento com fêmea de franca com filhotes. Foi incrível”, conta Marcondes que é o Coordenador de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte.

De acordo com ele este comportamento foi observado entre duas jubartes e uma baleia franca em 1996 e em 2009. Em 2009, os pesquisadores conseguiram coletar amostras de pele das três baleias e através de exames genéticos confirmaram que as jubartes eram machos e a franca uma fêmea. Desta vez o comportamento das baleias foi o que revelou o provável sexo dos mamíferos.

“Temos quase certeza que eram duas jubartes macho em comportamento reprodutivo que perseguiam a fêmea de baleia-franca para tentar a cópula. Como ela estava com filhote e apresentava sinais de estresse nós evitamos nos aproximar para fazer a biopsia, mas pudemos observar o grupo durante 40 minutos. Os machos apresentavam o comportamento de um grupo competitivo, ou seja, o mesmo comportamento que eles têm quando disputam uma fêmea de baleia jubarte, só que desta vez direcionado para a franca”.

Jubarte macho tentava ‘impedir’ o caminho da fêmea franca (Foto: Milton Marcondes/Projeto Baleia Jubarte)

Marcondes relembra ainda que havia uma jubarte um pouco maior, que é chamada de escorte-principal, que ficou o tempo todo ao lado da franca e não deixava a outra jubarte, que era um pouco menor, se aproximar dela.

“Teve um momento que eu nunca tinha flagrado, uma cena curiosa, que foi quando uma das jubartes subiu com a cabeça na vertical, movimento que chamamos de espiar, bem na frente da franca, como se quisesse interromper o trajeto da fêmea”, relembra.

As espécies possuem comportamentos reprodutivos completamente diferentes. Enquanto nas jubartes os machos acompanham e disputam a fêmea até que ela cruze com apenas um durante toda a temporada, as francas têm uma reprodução poliândrica. “Diversos machos cortejam e acasalam com a mesma fêmea, que tenta evitar a cópula virando de barriga para cima”, esclarece.

Em relação à presença do filhote, seria algo relativamente comum caso a interação acontecesse entre baleias jubarte. “Pouco tempo após o nascimento do filhote a fêmea já entra no cio novamente, mas isso não significa necessariamente que ela vai engravidar, mesmo após a cópula”, explica o pesquisador.

Imagem mostra baleia-azul (Foto: Divisão Antártica Australiana)

Há relatos de cruzamento entre baleias de diferentes espécies e até filhotes híbridos resultantes desses comportamentos, porém sempre entre espécies da mesma família ou mais próximas geneticamente como as baleias Azul e Fin.

No caso da cena flagrada em Abrolhos não se sabe se os mamíferos chegaram de fato a cruzar e, se isso aconteceu, também não é possível saber se acarretaria em uma gravidez viável e possivelmente um filhote saudável e fértil.

As baleias-franca só tem um filhote por gestação (Foto: Divulgação SCPAR Porto de Imbituba)

Mas por que será que os machos da baleia jubarte tentaram acasalar com uma fêmea franca sendo que nesse período no local há inúmeras jubartes fêmeas para a reprodução?

“Essa é a pergunta mais difícil de se responder. Não sabemos de fato o motivo, mas ficamos com a impressão de serem dois machos relativamente pequenos. Se forem machos, que, atingiram a maturidade sexual há pouco tempo, eles podem ter pouca experiência reprodutiva. Talvez tenham achado mais fácil tentar investir em uma franca do que entrar em um grupo competitivo com várias jubartes maiores. Mas é só uma hipótese, não conseguimos saber”, finaliza o pesquisador.

Fonte: G1

Compartilhe
Facebook
Twitter
WhatsApp

Notícias relacionadas