Cientistas usam IA para identificar sons do fundo do mar; escute

Em “um grande avanço” para compreender mais a fundo as dinâmicas da vida marinha, cientistas estão usando algoritmos de inteligência artifical para identificar os diversos sons feitos pelos seres que vivem sob a água, criando um verdadeiro “mapa sonoro” do fundo do mar.

A iniciativa é de um grupo chamado “Experimento Internacional do Oceano Quieto” (International Quiet Ocean Experiment, IQOE), fundado em 2015 com um plano de realizar em 10 anos o primeiro levantamento sonoro dos oceanos do mundo. O colegiado reúne cientistas do Reino Unido, EUA, Canadá, Austrália, Alemanha, Noruega, Islândia e África do Sul.

Um recife de coral saudável e cheio de vida no Mar Vermelho, Egito (Foto: Reprodução)

Os pesquisadores usam microfones subaquáticos conhecidos como hidrofones, que não emitem ruído adicional e permitem o monitoramento acústico passivo. Mas a maior novidade está na forma de analisar os sons obtidos: em vez de passar meses decifrando-os usando ouvidos humanos, discutindo sobre qual som era um camarão estalando e qual era um grunhido de peixe, eles conectaram os sons a um algoritmo que identificou corretamente as espécies em questão de minutos.

Entre as 21 espécies registradas, o programa identificou corretamente os sons de 4 delas, com 89,4% de acerto nesses casos: tamborilpeixe-roncadorcamarão-de-estalo e planctonófago. Clique no nome de cada espécie para ouvir os seus sons gravados no fundo do mar, disponibilizados pelo IQOE.

“O machine learning foi um grande avanço para nós”, diz ao The Guardian Jesse Ausubel, cofundadora do IQOE. “Antigamente, você podia colocar um microfone na água por um ano, e eu levaria três anos para ouvir as fitas. Mas nossos ouvidos não estão sintonizados com a diferença entre ondas quebrando, baleias jubarte, navios ou camarões. Já se você jogar em um computador algumas horas de sons de um camarão-de-estalo, e ele pode se tornar um especialista muito rapidamente”, explica.

No final de abril, os pesquisadores se reuniram em uma conferência para discutir suas descobertas, já que sua colaboração de uma década chega ao fim em 2025. Foram coletadas até 4 mil séries de gravações do Atlântico, Pacífico e Antártida, bem como as costas da Austrália e da Nova Zelândia.

No vídeo abaixo, publicado no Youtube, é possível ouvir mais sons captados de outras espécies para a biblioteca sonora:

Expectativas futuras

Os pesquisadores esperam que a tecnologia possa evoluir ainda mais para ajudá-los a identificar espécies ainda não descobertas, identificando padrões e combinando novos sons com ruídos feitos por espécies já conhecidas.

Peter Tyack, um estudioso de comportamento animal da Universidade de St Andrews, na Escócia, diz “não ser loucura” que “em 2100 possamos ter decodificado a linguagem dos golfinhos, e possamos entender o que eles estão dizendo”. Para ele, “o som é uma das maneiras pelas quais a ciência pode aprender os mistérios do mar.”

Um importante legado do IQOE foi o lançamento, em 2021, da primeira biblioteca internacional de sons subaquáticos do mundo. A iniciativa é liderada por Miles Parsons, cientista britânico do Instituto Australiano de Ciência Marinha. Ele pretende catalogar milhões de horas de gravações em uma tentativa de “democratizar o som subaquático”. Vai permitir também que “cientistas cidadãos” façam upload de suas próprias gravações, aumentando a chance de descobrir e catalogar novos sons.

Outro avanço é a queda do preço dos hidrofones. Eles costumavam custar milhões de dólares há 50 anos, mas agora podem ser comprados por valores equivalentes a R$ 24 mil, no caso de um dispositivo que grave por um ano estando preso a uma bóia.

Fonte: Um Só Planeta

Compartilhe
Facebook
Twitter
WhatsApp

Notícias relacionadas