Cientistas identificam caso mais profundo de branqueamento de recife de coral até hoje

Cientistas descobriram o caso mais profundo conhecido de branqueamento de recifes de coral, fenômeno em que eles perdem a pigmentação e que normalmente é seguido pela morte do organismo e pela perda da biodiversidade que costuma se abrigar ali.

O caso recém-documentado foi visto a mais de 90 metros abaixo da superfície do Oceano Índico. A causa foi um aumento de 30% na temperatura do mar causado pelo dipolo do Oceano Índico – um fenômeno meteorológico característico desse oceano, marcado pela oscilação rápida de temperaturas entre fases chamadas positivas (quando o lado oeste do Índico apresenta maiores temperaturas) e negativas (lado leste apresentando menores temperaturas).

Foi o primeiro registro de branqueamento de corais em uma profundidade que era considerada resistente ao aquecimento do oceano. Embora a causa tenha sido um fenômeno natural, os pesquisadores acreditam que seu alcance pode ter sido intensificado pelo crescente aquecimento dos oceanos devido às mudanças climáticas causadas pelo homem.

“Os corais mais profundos sempre foram considerados resistentes ao aquecimento dos oceanos, porque as águas que habitam são mais frias do que as da superfície e acreditava-se que permaneciam relativamente estáveis. No entanto, esse claramente não é o caso, e provavelmente existem recifes em profundidades semelhantes em todo o mundo que estão ameaçados por mudanças climáticas semelhantes”, disse Phil Hosegood, professor associado de oceanografia na Universidade de Plymouth, no Reino Unido, onde foi feito o estudo que acabou sendo publicado na Nature Communications.

Pesquisadores da universidade estudam o Oceano Índico Central há mais de uma década. Eles fazem cruzeiros de investigação em que usam robôs subaquáticos e dados oceanográficos gerados por satélite para compreender mais sobre a oceanografia única da região e sua biodiversidade.

Registro de branqueamento de corais em águas profundas feito por cientistas (Foto: Universidade de Plymouth)

No comunicado sobre o estudo, eles contam que, em 2019, as imagens das câmeras subaquáticas foram transmitidas ao vivo para o navio de pesquisa e deram à equipe de pesquisa o primeiro vislumbre dos corais que haviam sido branqueados em níveis mais profundos.

Em seguida, eles reuniram informações de satélites que monitoram as condições e temperaturas do oceano e descobriram que, embora as temperaturas na superfície do oceano quase não tenham mudado, as temperaturas abaixo da superfície subiram de 22°C para 29°C, devido ao aprofundamento da termoclina (estrato intermediário da coluna de água, entre a superfície e o hipolímnio, a camada mais profunda) através do Oceano Índico equatorial.

“Isto é o equivalente dessa região ao El Niño e, devido às mudanças climáticas, estes ciclos de variabilidade estão se tornando amplificados. No futuro, o branqueamento no oceano mais profundo aqui e noutros lugares provavelmente se tornará mais frequente”, disse a investigadora Clara Diaz.

Com os danos em corais de águas rasas aumentando em frequência e gravidade, esperava-se que os corais mesofóticos – encontrados entre 30-150m abaixo da superfície – pudessem equilibrar esse sistema, dando sobrevida à biodiversidade marinha. No entanto, a investigação destaca que esse pode não ser o caso – e com os corais de águas profundas em todo o planeta permanecendo pouco estudados, outros casos similares de branqueamento podem estar passando despercebidos, alertam os cientistas.

“A oceanografia de uma região é impactada por ciclos naturais que estão sendo amplificados pelas mudanças climáticas. Atualmente, a região está sofrendo impactos semelhantes, se não piores, devido à influência combinada do El Niño e do Dipolo do Oceano Índico. Embora não haja forma de impedir o aprofundamento da termoclina, o que podemos fazer é expandir a nossa compreensão dos impactos que estas mudanças terão nestes ambientes dos quais temos tão pouco conhecimento. Isso nunca foi tão urgente”, apontou Phil Hosegood.

Fonte: Um Só Planeta

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