Responsável por mais de 80% do volume de comércio mundial, a indústria naval representa 3% das emissões globais de gases de efeito estufa e apresentou 20% de aumento em apenas uma década – mostra o último relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), divulgado em setembro. O transporte marítimo emite mais poluentes do que as viagens aéreas e vem buscando tecnologias e soluções para uma transição energética.
Em meio a esse cenário, cientistas da Universidade de Cranfield, no Reino Unido, estão desenvolvendo uma espécie de asa subaquática, inspirada em uma barbatana de baleia, para ser usada em navios. Conhecida como “tecnologia de propulsão devoradora de ondas”, a inovação aproveita a energia cinética (energia associada ao movimento) para se movimentar e dispensaria o uso de combustível fóssil altamente poluente, ajudando a descarbonizar o setor.
Na prática, funciona assim: à medida que a asa flui através da água, ela automaticamente bate para cima e para baixo, gerando empuxo – muito parecido com quando um pássaro desliza pelo ar ou um peixe navega pela água. No entanto, assim como esses animais, o sistema não funcionará a menos que haja um motor para fornecer a energia inicial. Quando o navio está navegando, as folhas reduzem o esforço geral necessário para empurrar a embarcação para frente.
Ainda em fase de testes, o sistema sozinho poderia reduzir o uso de combustível dos navios em até 15%, mas, combinado com outras tecnologias que estão sendo desenvolvidas, como asas de vento gigantes ou velas solares, seria possível levar a indústria naval para emissões líquidas zero.
O conceito de bater para gerar empuxo a partir da água corrente não é novo: foi descoberto por pesquisadores alemães há mais de um século. No entanto, durante muito tempo, o processo não foi bem compreendido e não saiu do papel.
Nos últimos anos, algumas empresas surgiram para tentar comercializar e trazer ao mercado a “propulsão devoradora de ondas”. São elas a Wavefoil, da Noruega, e a Liquid Robotics, dos EUA. Em 2019, a Wavefoil ganhou holofotes quando instalou folhas de proa retráteis em um navio pela primeira vez na história. Até o momento, já conseguiu 5 milhões de euros de investimento e avançou com a tecnologia em outras embarcações.
Cientistas acreditam que a nova tecnologia tem o potencial de oferecer uma solução surpreendentemente simples para reduzir o consumo de energia de navios grandes e pequenos. O pesquisador principal, Dr. Liang Yang, disse ao site The Next Web que prevê seu uso para todos os tipos de embarcações no futuro – de robôs de coleta de resíduos a navios de carga gigantes.
Fonte: Um Só Planeta