Beija-flor faz ninho em frente a hospital e encanta pacientes em Santos

Ir para o mato em busca de espécies de aves para fotografar e filmar faz parte da rotina do biólogo Leonardo Casadei. Há onze anos ele se dedica à prática da observação desses animais, e no acervo pessoal, já tem mais de 700 espécies registradas.

Beija-flor-de-garganta-verde alimentando os filhotes com cerca de 4 dias (Foto: Leonardo Casadei/G1)

Mesmo quando não vai atrás dos bichos, a natureza sempre dá um jeito de chegar até ele. Foi o que aconteceu com o caso da descoberta de um ninho de beija-flor na Santa Casa da Misericórdia de Santos.

Uma enfermeira que cuida da minha mãe comentou que tinha encontrado um ninho por lá, mas não sabia qual espécie era. Ela sabe que sou biólogo e observador de aves, pois minha mãe fala muito sobre isso, e então ela resolveu me avisar sobre o achado para que eu pudesse ir lá ver”, comenta.

Fêmea de beija-flor chocando os ovos (Foto: Leonardo Casadei/G1)

A descoberta ocorreu em dezembro e, ao verificar de perto, o biólogo constatou que se tratava de uma fêmea de beija-flor-de-garganta-verde (Chionomesa fimbriata).

Embora seja considerado um colibri relativamente comum, com ampla distribuição pelo país, Leonardo se surpreendeu com o local escolhido pela ave para criar e cuidar dos filhotes: um pequeno arbusto ao lado da porta da central de hemodiálise do hospital.

O ninho foi construído em um arbusto baixo, com cerca de um metro e meio do chão, em uma área com intenso fluxo de pessoas. O local também é um corredor da instituição que leva a outros setores do hospital e, para completar, o movimento aumentou recentemente por conta de reformas.

Dois filhotes nasceram e foram monitorados de perto por biólogo (Foto: Leonardo Casadei/G1)

“Sei que o beija-flor-de-garganta-verde frequenta a área urbana, mas fazer um ninho em um lugar tão movimentado e relativamente distante de uma área florestada foi uma surpresa pra mim. Acredito que isso possa até ser uma estratégia da ave para se livrar de predadores, e deu super certo”, acrescenta.

O biólogo tem frequentado o hospital três vezes por semana, para acompanhar a mãe em um tratamento de saúde. Nessas idas, durante um mês, ele aproveitou para monitorar o ciclo da família de beija-flor. Leonardo observou tudo, desde a confecção do ninho até o voo do último filhote. “Eu deixava a minha mãe realizando o curativo e ia para o ninho, fazer plantão”, lembra.

Filhote de beija-flor foi registrado pouco antes de sair do ninho (Foto: Leonardo Casadei/G1)

Diferentemente do que está acostumado quando vai a campo, ali na área do hospital ele evitou utilizar a câmera fotográfica. E foi preciso muita dedicação para conseguir as imagens almejadas.

“A maioria das fotos e vídeos foram feitos com o celular mesmo, para não chamar tanta atenção com o equipamento fotográfico no local. Tinha que ter muita paciência, porque depois que os bebês nasceram a mãe só vinha de hora em hora alimentá-los. Então se eu perdesse uma oportunidade de presenciar a cena só teria outra chance uma hora depois”, conta.

Nas redes sociais, Leonardo compartilhou um vídeo revelando como foi a observação da família de beija-flor próximo ao hospital.

Mesmo com o cuidado de não despertar olhares e não atrapalhar o ciclo de vida da família de beija-flores, muitas pessoas que circulavam por ali também aproveitavam para observar e fazer um registro. Quando estava por lá, o biólogo as orientava sobre como observar sem interferir na vida das aves.

Fêmea de beija-flor-de-garganta-verde com o filhote após ele deixar o ninho (Foto: Leonardo Casadei/ G1)

Após vinte dias de vida, um dos filhotes deixou o ninho. O biólogo não estava no hospital nesse momento, mas obteve informações com as pessoas que fazem hemodiálise. Poucos dias depois, Leonardo acompanhou o processo de independência do segundo filhote.

Para ele, poder ver uma cena de ternura, delicadeza e perfeição da natureza tão de perto foi um grande privilégio e alento, principalmente para os pacientes que frequentam o hospital.

“Eles trouxeram leveza, hospital geralmente é um ambiente denso, pesaroso. As pessoas não estão lá porque querem, estão obrigadas, se tratando. Conversei com muitas pessoas durante esse tempo e elas ficavam encantadas”, acrescenta Leonardo Casadei.

Autor do livro Tucanos e pica-paus da costa da Mata Atlântica, Casadei já teve a oportunidade de acompanhar vários ciclos reprodutivos das aves, mas o do beija-flor-de-garganta-verde foi à primeira vez. O momento, que foi eternizado em imagens, jamais será esquecido por ele, pelos funcionários e pacientes que passaram pelo hospital nesse período.

Beija-flor-de-garganta-verde tem ampla distribuição pelo Brasil (Foto: Leonardo Casadei/G1)

Beija-flor-de-garganta-verde

Como o próprio nome diz, a espécie possui um tom verde metálico na região da garganta. Pouco abaixo, na área do ventre tem as penas esbranquiçadas. Ao todo, o comprimento da ave não ultrapassa os 11 centímetros.

Macho e fêmea são muito parecidos, mas somente a fêmea é a responsável por construir o ninho e cuidar dos filhotes. Como outras espécies de beija-flores, ela costuma por dois ovos. A espécie pode ser observada em jardins, bordas de florestas, capoeiras e restingas litorâneas.

Fonte: G1

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