Um novo estudo eleva o nível de alerta para as mudanças climáticas em uma das regiões mais frias do mundo. A Antártica, que tende a ter “cascatas” de eventos climáticos extremos se não forem tomadas medidas drásticas para limitar o aquecimento global, alertam os cientistas.
“É praticamente certo que as emissões contínuas de gases de efeito estufa levarão a aumentos no tamanho e na frequência dos eventos”, diz o estudo publicado nesta semana na revista Fronteiras da Ciência Ambiental. “Não podemos descartar futuros eventos e cascata que podem ter impactos vinculados de amplo alcance”.
Eles estão alarmados com a lentidão com a qual o gelo da Antártica tem se recomposto no inverno austral, depois de atingir um nível mínimo histórico em fevereiro deste ano. O degelo foi tão extremo que acabou sendo designado como um “evento sigma” – em termos matemáticos, um evento tão raro que foge a seis desvios-padrão em uma distribuição de probabilidades. Basicamente, extremamente raro, que os cientistas estimam que não ocorria há 7,5 milhões de anos.

No hemisfério norte, também há preocupação com o Ártico, que deve ficar sem gelo no verão até 2030. Ambos os extremos do mundo refletem o ritmo acelerado com que o aquecimento global está prejudicando os ecossistemas do planeta.
O aumento das temperaturas também fez com que o mês de julho fosse o mais quente já registrado, com incêndios florestais e ondas de calor devastando vários países do hemisfério norte. A América do Sul também está enfrentando temperaturas de inverno sem precedentes – ultrapassando os 30ºC no Brasil e no Chile.
Uma onda de calor extremo também foi registrada no leste da Antártida, com as temperaturas atingindo 38,5°C acima da média para o período em março de 2022, de acordo com o estudo. Os autores alertam que os eventos de degelo exacerbado podem se tornar mais frequentes e, de forma semelhante ao que já se vê no Ártico, se autoperpetuar à medida que mais calor solar é absorvido pelo planeta e menos é refletido, devido à redução da cobertura de gelo.
O estudo conclui que a Antártida provavelmente enfrentará estresse e danos consideráveis nas próximas décadas. E alerta para o iminente descumprimento do Tratado da Antártica, de 1959, em que 12 países (incluindo Reino Unido, Estados Unidos, Índia e China) prometem preservar o frágil ambiente do continente por meio.
“As nações devem entender que, ao continuar a explorar, extrair e queimar combustíveis fósseis em qualquer lugar do mundo, o meio ambiente da Antártica será cada vez mais afetado de maneiras inconsistentes com sua promessa”, disse autor Martin Siegert, professor da Universidade de Exeter.
Outro efeito colateral do degelo é que mais áreas do extremo sul podem se tornar acessíveis aos navios, ameaçando ecossistemas vulneráveis que não estão acostumados com a passagem de embarcações. “A mudança na Antártica tem implicações globais. Reduzir as emissões de gases de efeito estufa é nossa melhor esperança de preservá-la, e isso deve importar para todos os países e indivíduos no planeta”, disse Siegert.
Fonte: Um Só Planeta