O que os golfinhos estão ensinando aos humanos sobre envelhecimento

Um uso militar que acabou dando espaço a pesquisas científicas. Golfinhos criados em um programa da Marinha dos Estados Unidos estão sendo usados para estudos que podem resultar em melhorias para a saúde dos animais e também a dos humanos.

Uma reportagem do The New York Times mostra que os animais começaram a ser treinados para fins militares em 1959, durante a Guerra do Vietnã, em razão das habilidades dos animais como visão apurada embaixo d’água e um poderoso sonar, sistema de ecolocalização.

Hoje, eles ainda são usados para tarefas como localizar minas submarinas, recuperar objetos submersos e interceptar embarcações desconhecidas em águas americanas.

Mas, até para manter os animais em bom estado de saúde, diversos estudos começaram a ser realizados para aumentar sua longevidade. Alguns golfinhos ali já têm mais de 50 anos de idade e se encontram em boas condições de saúde – condição que acabou gerando a curiosidade que deu início a estudos mais específicos sobre envelhecimento dos animais.

Além de cuidar da saúde dos animais, a equipe da Marinha coleta amostras de sangue, urina e fezes, que são armazenados em freezers por décadas. Assim, é possível conhecer o estado de saúde deles durante diferentes fases da vida, e entender tendências de seu envelhecimento. Os golfinhos de leões marinhos estudados já renderam mais de 12, mil estudos científicos, diz a instituição.

Golfinhos são usados em pesquisas científicas pela Marinha dos EUA (Foto: Reprodução)

Descobertas sobre o envelhecimento humano

O NYT mostra que as pesquisas, além de levarem à descobertas sobre novos tratamentos para elevar a expectativa de vida dos animais, também fizeram os cientistas notar, com o tempo, algumas similaridades entre os processos de envelhecimento de golfinhos e dos humanos. Trazendo, assim, lições valiosas para a medicina.

Os cientistas descobriram, por exemplo, que os golfinhos sofrem de enfermidades semelhantes às de pessoas, como colesterol alto, anemia e inflamações crônicas. E notaram que alguns alimentos da dieta dos animais, como ácidos graxos saturados, estavam associados aos espécimes com melhores indicadores de saúde. Isso permitiu que fossem elaborados suplementos alimentares com base nesses compostos, que são comercializados para humanos.

Hoje, há médicos como o Jeffrey Schwimmer, gastroenterologista pediátrico, que estudam esses ácidos graxos de forma a compreender melhor como eles podem beneficiar a saúde humana. “Foi o trabalho com os golfinhos que colocou isso no meu radar”, comenta.

Em outro achado, pesquisadores descobriram que os golfinhos podem desenvolver lesões cerebrais semelhantes às de pacientes com Alzheimer. Agora, eles estão trabalhando para determinar se os golfinhos também apresentam sintomas cognitivos semelhantes. Se o resultado for positivo, isso pode explicar alguns encalhes de mamíferos marinhos, dizem os especialistas, e pode tornar os golfinhos um modelo útil para estudar a doença neurodegenerativa.

A Marinha norte-americana ainda vem trabalhando no sequenciamento do genoma de dezenas de golfinhos, tentando encontrar marcadores genéticos associados a indicadores de saúde melhores e piores. O objetivo inicial é de compreender formas de melhorar a saúde dos animais, mas “se for possível descobrir algo que derive em melhorias para a saúde humana, melhor ainda”, diz Eric Jensen, um dos cientistas que comandam o programa.

Há, no entanto, práticas e estudos que são criticados por colegas dos pesquisadores da Marinha. Como pesquisas que fazem os golfinhos saírem do seu habitat para ir a laboratórios, engolir grandes quantidades de água salgada, retirar tecidos para biópsias e expô-los a ambientes estressantes.

Fonte: Época

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